Atividade empresarial em Moçambique com maior queda desde 2020 devido a tensões

O índice PMI de atividade empresarial em Moçambique sofreu em dezembro a “pior contratação mensal” desde agosto de 2020, devido à tensão pós-eleitoral no país, segundo o Standard Bank, que conduziu o inquérito

Atividade empresarial em Moçambique com maior queda desde 2020 devido a tensões

“As empresas do setor privado moçambicano relataram uma maior deterioração das suas condições no último mês de 2024, tendo a produção e as carteiras de encomendas sido de novo afetadas negativamente por protestos e greves. A procura pelos clientes diminuiu ao ritmo mais elevado em quatro anos e meio, causando reduções adicionais nas aquisições, nos ‘stocks’ e nos efetivos”, lê-se no estudo, divulgado hoje.

O documento acrescenta que o principal indicador do PMI desceu mais dois pontos em dezembro, situando-se “bem dentro do território de contração”, pelo segundo mês consecutivo, descendo de 48,4 em novembro para 46,4 em dezembro.

“O indicador assinalou uma sólida deterioração da saúde do setor privado”, sublinha, assumindo que as empresas inquiridas “indicaram amplamente que o declínio das condições de operação se deveu aos protestos e às greves que se seguiram às eleições gerais”.

“Esta instabilidade teve um impacto considerável no volume total de novas encomendas, que desceu em todos os setores monitorizados, registando a maior queda desde junho de 2020”, acrescenta igualmente.

Indicadores do PMI acima de 50 pontos apontam para uma melhoria nas condições das empresas em relação ao mês anterior, ao passo que indicadores abaixo desse valor mostram uma deterioração.

O indicador PMI (Purchasing Managers Index, em inglês) publicado mensalmente pelo Standard Bank resulta das respostas de diretores de compras de um painel de cerca de 400 empresas do setor privado.

Citado no documento, o economista-chefe do Standard Bank Moçambique, Fáusio Mussá, confirmou uma revisão em baixa da perspetiva de crescimento económico do país em 2024, para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), contra a previsão inicial do Governo de 5%.

“Em 2023, o crescimento do PIB foi de 5,4% em termos homólogos. Isto implica que o crescimento do PIB passa a ser negativo, pelo menos no quarto trimestre de 2024 e no primeiro trimestre de 2025. Eventos ligados às alterações climáticas também podem ter um impacto negativo no crescimento. O ciclone tropical Chido, que atingiu partes do norte de Moçambique, já causou mortes, deslocamentos e danos em infraestruturas”, refere Mussá.

“As perspetivas agravaram-se acentuadamente devido à tensão pós-eleitoral, ao recuo do crescimento do PIB, à subida da inflação, a pressões fiscais, desequilíbrios entre a procura e a oferta de divisas, episódios recorrentes de insegurança em Cabo Delgado e, consequentemente, atrasos constantes nos investimentos nos projetos de gás natural liquefeito”, concluiu.

Confrontos entre a polícia e manifestantes que contestam os resultados das eleições gerais moçambicanas de 09 de outubro já provocaram quase 300 mortos e quase 600 pessoas baleadas, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

O Conselho Constitucional (CC) de Moçambique fixou o dia 15 de janeiro para a tomada de posse do novo Presidente da República, Daniel Chapo, que sucede a Filipe Nyusi.

Moçambique vive desde outubro a maior contestação desde as primeiras eleições, em 1994, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane — candidato que segundo o CC obteve apenas 24% dos votos, mas que reclama vitória — em protestos a exigirem a “reposição da verdade eleitoral”, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia.

 

PVJ // VQ

By Impala News / Lusa

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