Biden exorta norte-americanos a manterem “a fé”, na véspera da posse de Trump
O Presidente norte-americano cessante, o democrata Joe Biden, exortou hoje os concidadãos a manterem “a fé”, na véspera da tomada de posse do republicano Donald Trump como 47.º Presidente dos Estados Unidos.
Biden falava durante uma última visita enquanto chefe de Estado ao coração da comunidade negra da Carolina do Sul — estado decisivo para a sua vitória presidencial em 2020 -, para homenagear o herói afro-norte-americano dos direitos civis, Martin Luther King Jr., assassinado em 04 de abril de 1968, uma vez que o feriado que lhe é dedicado nos Estados Unidos calha este ano na segunda-feira, dia da cerimónia de investidura de Trump.
Na sua última viagem oficial, Joe e Jill Biden passaram o dia na histórica cidade de Charleston, na Carolina do Sul, marcada pela escravatura e pela segregação racial e em 2015 por um massacre racista de paroquianos negros, cujo autor, um supremacista branco, foi condenado à morte.
O Presidente democrata, um católico fervoroso, deslocou-se à igreja protestante Royal Missionary Baptist Church para assistir a um serviço religioso.
“Sempre que passo algum tempo numa igreja negra, penso numa coisa: a palavra ‘esperança'”, disse Biden, apontando os seus dois modelos de há mais de meio século: o icónico Martin Luther King Jr. e o emblemático senador Bobby Kennedy, também assassinado em 1968.
“O meu pai costumava dizer que o maior pecado de todos é o abuso de poder”, continuou Joe Biden, sem nunca mencionar o nome de Donald Trump.
Mas “a fé ensina-nos que a América dos nossos sonhos está sempre mais perto do que pensamos”, defendeu Biden, 82 anos, num discurso bastante mais otimista que a sua muito sombria despedida ao país, na quarta-feira, quando denunciou que “está a formar-se uma oligarquia na América”.
“Mantenhamos a fé em dias melhores”, concluiu, sob os aplausos de pé dos fiéis que se encontravam na igreja.
A Carolina do Sul e a sua comunidade afro-americana foram decisivas para a vitória presidencial de Joe Biden: graças ao congressista Jim Clyburn, este Estado do sudeste dos Estados Unidos reforçou Biden nas primárias democratas de 2020 para a corrida à Casa Branca.
Joe Biden tinha inicialmente planeado visitar outra igreja protestante em Charleston, onde tinha declarado, em janeiro de 2024, que nunca teria sido eleito Presidente sem “a comunidade negra da Carolina do Sul”, mas mudou de ideias e foi a esta, onde já tinha estado em 2015, enquanto vice-presidente de Barack Obama, numa cerimónia fúnebre após um massacre racista.
A 17 de junho desse ano, o cidadão norte-americano Dylann Roof, na altura com 21 anos e a convicção de uma supremacia branca sobre as outras raças, que considerava inferiores, abriu fogo e disparou 77 vezes dentro da igreja, crivando de balas nove fiéis negros que tinham acabado de o acolher de braços abertos para uma sessão de estudo da Bíblia.
O incidente chocou ainda mais os Estados Unidos, porque a paróquia atingida é um local simbólico da luta contra a escravatura, reunindo a mais antiga comunidade negra de Charleston.
Dylann Roof foi condenado à morte no início de 2017, sentença confirmada pelo tribunal federal de recurso em agosto de 2021, no início do mandato presidencial de Biden (2021-2025).
Atualmente com 30 anos, ele não estava, até agora, em risco de execução, uma vez que o Governo Biden impôs em 2021 uma moratória sobre as execuções à escala federal.
Pouco antes do Natal, Joe Biden comutou as penas de morte de 37 criminosos condenados a nível federal, mas manteve as sentenças de Dylann Roof e Djokhar Tsarnaev, o bombista do atentado à Maratona de Boston de 2013.
E hoje, Biden concedeu os seus últimos perdões e comutações presidenciais: perdoou a título póstumo o jamaicano Marcus Garvey, ativista negro e figura central do movimento Rastafari. Garvey, que morreu em 1940, foi um precursor do pan-africanismo, defendendo o regresso dos descendentes de escravos negros a África.
ANC // JMR
By Impala News / Lusa
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