Carlos Moedas retira proposta para alienar sete terrenos municipais em Lisboa

A coligação que lidera a Câmara Municipal de Lisboa (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança) retirou hoje uma proposta que previa a alienação de sete terrenos, avaliados em cerca de 70 milhões de euros, que foi alvo de várias críticas da oposição.

Carlos Moedas retira proposta para alienar sete terrenos municipais em Lisboa

A proposta, subscrita pelo presidente da Câmara, Carlos Moedas (PSD) e pela vereadora da Habitação, Filipa Roseta, previa a alienação em hasta pública de sete terrenos municipais nas freguesias do Lumiar (um terreno), Marvila (dois), Beato (três) e Penha de França (um), e deveria ter sido discutida e votada durante uma reunião de câmara privada do executivo.

O objetivo da operação, segundo os subscritores, seria obter financiamento para realizar investimentos na área da habitação, no bairro da Liberdade, encosta de Campolide, Casal do Pinto e Portugal Novo, representando um total estimado superior a 700 habitações e um investimento de 100 milhões de euros.

A proposta viria a ser retirada da ordem de trabalhos, na sequência das críticas levantas pelos partidos da oposição e depois de o PS ter apresentado uma proposta de alteração, segundo indicou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), em declarações enviadas à agência Lusa.

“O PS propôs, de forma absolutamente inaceitável e incompreensível, um conjunto de obstáculos à criação de mais habitação municipal na cidade de Lisboa. Devido a esses obstáculos, o executivo municipal viu-se obrigado a retirar uma proposta que iria permitir um investimento de 70 milhões de euros em habitação”, justificou o autarca.

Sem adiantar se a liderança do seu executivo irá apresentar uma proposta nos mesmos moldes, Carlos Moedas sublinha apenas que, “apesar destes obstáculos”, não irá desistir de ” encontrar soluções para criar mais habitação acessível para os lisboetas”.

“Os truques partidários do PS colocam, uma vez mais, em causa a concretização de mais habitação acessível em Lisboa. Privilegiam a sobrevivência partidária em detrimento das pessoas”, acusou o autarca.

De acordo com a proposta de alteração do PS, a que a Lusa teve acesso, no processo de alienação, o executivo deveria apresentar “informação individualizada por ativo imobiliário” e a “operação em concreto” que iria financiar com a respetiva venda.

Os socialistas pretendiam, igualmente, que fosse feita a “extrapolação por área e tipologias do número de fogos potenciais do ativo a alienar e da operação a financiar, com a indicação da data previsível do início da obra e o respetivo cronograma até à sua entrega”.

“O PS não aceita a ideia que se venda agora para poder vir a construir, sem compromissos firmes e projetos apresentados, num qualquer futuro mais ou menos próximo. Utilizar o argumento que é preciso vender terrenos, em 2024, para financiar a reabilitação do bairro Portugal Novo, para o qual ainda são precisos projetos e resolver questões patrimoniais que se podem arrastar por vários anos, não é sério”, justificaram os vereadores socialistas, numa nota enviada à Lusa.

Nesse sentido, os socialistas sublinham que “para ter luz verde, a alienação de terrenos dependeria sempre da construção ou reabilitação de novas casas” e que esses novos empreendimentos “tinham de ser identificados”.

Também numa reação a este tema, o Bloco de Esquerda afirmou que “a retirada de uma proposta que era imoral e lesiva para quem vive e trabalha em Lisboa” mostra que Carlos Moedas se queria “vitimizar” e que “não era para valer”.

“Depois do buraco nas contas da autarquia, a apresentação desta proposta e a sua retirada sem votação demonstra total desorientação por parte de Carlos Moedas”, afirmam os bloquistas.

Já os vereadores do PCP indicaram que “não são, por princípio, contra a alienação de património municipal, mas que, nas condições atuais, a acontecer, ela deverá ser a contrapartida de operações que, globalmente, aumentem e não diminuam a capacidade de construção de habitação a preços acessíveis”.

Por sua vez, os vereadores do Cidadãos Por Lisboa afirmam que “nunca a Câmara de Lisboa teve tantos recursos financeiros à disposição para fazer habitação”.

“Não se percebe porque queria Moedas alienar os poucos terrenos que ainda temos, se esse património pode ser fundamental no futuro. Está a tentar resolver os problemas causados pelo défice que voltou a surgir este ano nas contas, ou quer só maquilhar a falta de resultados?”, questionam.

No mesmo sentido, o Livre critica a alienação de terrenos “com potencial” habitacional, numa altura em que se vive uma “emergência na habitação”.

“No mandato passado, foram deixadas em obra e programadas mais de 2.400 fogos de programas públicos de renda acessível, os Novos Tempos, em vez de lançarem empreitadas e programarem mais 1.100 casas, preferem entregá-las ao desbarato à especulação imobiliária”, apontam.

O executivo da Câmara de Lisboa, que é composto por 17 membros, integra sete eleitos da coligação Novos Tempos (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança) — que são os únicos com pelouros atribuídos e que governam sem maioria absoluta –, três do PS, dois do PCP, três do Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre), um do Livre e um do BE.

FAC // MAD

By Impala News / Lusa

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