Centenas contestam extrema-direita em comício da AfD no oeste da Alemanha
Mais de 300 manifestantes, a maioria idosos, concentraram-se hoje em Euskirchen, oeste da Alemanha, para contestar a subida da extrema-direita nas eleições federais de dia 23, enquanto decorria um comício do partido Alternativa para a Alemanha (AfD).

Convocado por partidos e organizações da sociedade civil, a manifestação levou ao centro da pequena cidade de Euskirchen, estado da Renânia do Norte-Vestfália, centenas de idosos, mas também jovens e famílias, que sopravam apitos e exibiam cartazes contra a AfD e bandeiras com as cores do arco-íris, associando-se a um protesto nacional que decorreu hoje em 55 cidades alemãs para defender os direitos da comunidade LGBT.
“Nós somos o ‘Brandmauer'”, lia-se num grande cartaz, com a expressão em alemão para descrever o chamado ‘cordão sanitário’ que os partidos tradicionais impõem à AfD, partido de extrema-direita que está em segundo lugar nas sondagens para as eleições legislativas.
Outras mensagens diziam que “quem vota na AfD, vota nos nazis” e pediam “nenhum voto nos nazis” ou “cartão vermelho para a AfD”, enquanto se ouvia o cântico antifascista ‘Bella Ciao’.
Marion, uma trabalhadora social na integração de migrantes de 63 anos, afirma-se “muito preocupada” com a subida da extrema-direita.
“Todas as semanas organizo encontros de mulheres migrantes, do Afeganistão, da Ucrânia, e elas choram, têm medo”, relatou à Lusa.
As ‘Avós contra a Direita’, um movimento nacional que reúne 40 mil idosas no país, também marcaram presença.
Heike, 56 anos, juntou-se às ‘Omas’ (avós) para “resistir contra o fascismo e lutar pelos direitos de todas as pessoas”.
“‘Queer’, pessoas de cor, pobres, todos têm direitos, ninguém merece ser excluído”, defendeu.
Para a manifestante, se a União Democrata-Cristã (CDU), de Friedrich Merz, que lidera as sondagens, e a AfD chegarem ao poder, “a Alemanha será muito prejudicada”.
Stephan Siemens, 70 anos, está preocupado com “as ligações entre a CDU e a AfD”, considerando que a esquerda não soube dar respostas às classes sociais mais baixas e “por isso há esta subida da extrema-direita”.
Max e Jenny, 44 anos, levaram os três filhos, com 7 e 4 anos e um bebé de meses, à concentração.
“Adoramos a nossa democracia e temos de lutar por ela”, disse à Lusa o homem, que procura ensinar ao filho mais velho “o que é a extrema-esquerda e a extrema-direita, a guerra, o nazismo”.
Do partido Die Linke (A Esquerda), Mattis explicou que “investir nas políticas sociais e nas infraestruturas” é “a melhor forma de lutar contra a extrema-direita”.
O apoio do multimilionário norte-americano Elon Musk, próximo do Presidente dos EUA, Donald Trump, à AfD e à sua co-líder e candidata a chanceler, Alice Weidel, não foi esquecido. “Elon, por favor, leva a Alice e os seus inimigos da democracia para o teu país das maravilhas em Marte”, dizia um cartaz.
Com uma idosa a empurrar um andarilho a encabeçar a marcha, os manifestantes percorreram algumas ruas do centro da cidade, ao som de apitos e de palavras de ordem como “alerta antifascista” ou “todos juntos contra o fascismo”, numa marcha acompanhada por dezenas de agentes policiais, que fecharam acessos com carrinhas e vedações metálicas.
Segundo o porta-voz da polícia, Franz Küpper, cerca de 350 pessoas participaram no protesto. “A nossa prioridade é proteger as pessoas”, disse à Lusa.
Muito perto, a AfD realizava ao mesmo tempo um comício, com algumas dezenas de apoiantes que exibiam bandeiras da Alemanha.
O discurso de Sven Tristchler, deputado regional da AfD, foi interrompido por cinco jovens, que sopravam incessantemente apitos, perante olhares reprovadores e protestos de apoiantes da AfD.
“Queremos fazer mais barulho que eles, não queremos que eles falem”, disse um dos manifestantes à Lusa.
Os jovens acabaram por ser cercados por um forte dispositivo policial, que os escoltou para longe da praça.
“Obrigada à polícia”, disse Sven Tritschler, perante aplausos.
Em declarações à Lusa, o deputado regional afirmou que a AfD é “a favor da liberdade de expressão”, mas protestos como este “não são um bom exemplo para a democracia, se se tenta impedir alguém de falar”.
O político rejeita acusações de que a AfD é um partido fascista ou racista.
“Eu sou homossexual, a nossa candidata a chanceler, Alice Weidel, também é. Temos muitos imigrantes no partido. O que nós dizemos é, em muitos países, de senso comum, é de centro-direita, mas há algum histerismo na cena política alemã”, considerou.
Tritschler referiu que a AfD tem “pessoas provocadoras a dizer coisas estúpidas”, mas, sublinhou, o partido, criado há 10 anos, “fez um grande progresso”.
As migrações, que têm dominado a campanha para as legislativas, após ataques realizados por refugiados, “são um tema forte para a AfD”.
Questionado sobre o polémico termo “remigração”, invocado por Alice Weidel, o deputado explicou: “Não somos a favor de mais migração. Queremos remigrar as pessoas que não tenham direito legal de ficar aqui e que não tenham um contributo para a economia”.
A Alemanha realiza em 23 de fevereiro eleições legislativas antecipadas – estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta pelo SPD (social-democrata), pelos liberais do FDP e pelos Verdes.
*** Por Joana Haderer, enviada da agência Lusa ***
JH // CC
By Impala News / Lusa
Siga a Impala no Instagram