Chefes militares alertam para dificuldades de retenção e sugerem revisão do sistema de reformas

Os chefes militares alertaram hoje para a necessidade de melhorar as condições de retenção de pessoal nas Forças Armadas, nomeadamente ao nível dos vencimentos e das reformas, sugerindo que o sistema deveria ser revisto.

Chefes militares alertam para dificuldades de retenção e sugerem revisão do sistema de reformas

“No limite estamos a produzir gente altamente qualificada e que, passado pouco tempo, sairá das Forças Armadas”, afirmou o almirante Nobre de Sousa, chefe do Estado-Maior da Armada, durante uma conferência sobre Defesa Nacional organizada pelo Diário de Notícias, alertando para a necessidade de “melhorar as condições de retenção de pessoal”.

Segundo o chefe do Estado-Maior da Armada, os quadros das Forças Armadas contam com uma experiência com “graus diferenciados” e “competências na área da liderança”, o que os torna “particularmente apelativos para o mercado de trabalho na sociedade civil”.

Já o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Cartaxo Alves, disse que esta “nunca teve, até hoje, problemas de recrutamento”, dado que há “um universo alargado” a concorrer e são recrutadas “percentagens mínimas desse elevado número que concorre”.

“O nosso problema é reter as pessoas”, acrescentou.

De acordo com estes dois responsáveis, “a Marinha, nos últimos 10 anos, perdeu 22% do seu efetivo”, já a Força Aérea viu sair, em 2024, 280 militares do seu quadro permanente.

No mesmo painel, o chefe do Estado-Maior do Exército indicou que o ramo que lidera “aposta fortemente na qualificação do seu pessoal”, mas que é preciso “corrigir algumas dessintonias”, nomeadamente a nível salarial, apoios sociais e infraestruturas para que os militares “se sintam valorizados”.

Já o almirante Nobre de Sousa alertou para a redução da reforma dos militares que servem nas Forças Armadas, afirmando que esse é um problema que “põe as pessoas num dilema” entre subirem na hierarquia militar ou “passar para o mercado de trabalho na sociedade civil”.

Nobre de Sousa disse ainda que, para aqueles que ingressaram até 1989, a reforma será de 90% do último vencimento, mas, por exemplo, para os que ingressaram entre 1993 e 2005 a pensão oscilará entre os 51% e os 70% e, para os que entraram depois de 2006, esse valor desce para entre os 48% e os 68%.

“Eu percebo as necessidades que o país teve em dada altura, principalmente no período da ‘troika’, de tomar um conjunto de medidas (…), aplicar medidas uniformes a um corpo que não é uniforme por natureza. Os militares não têm as mesmas obrigações que os demais servidores nacionais e, portanto, as coisas deveriam ter sido vistas de outra forma”, acrescentou.

Cartaxo Alves corroborou as preocupações de Nobre de Sousa, afirmando que as condições de reforma são um dos principais fatores de abandono da Força Aérea, uma vez que não é possível competir com as condições oferecidas pelo mercado de trabalho da sociedade civil.

“Basta olhar para a tabela salarial dos militares, ver quanto é que se ganha (…), façam as contas de 45% a 60% do que é esse vencimento. Um homem com 60 anos vai ter uma reforma digna? Não vai. Vai ter uma reforma indigente. (…) Estes jovens não querem, ao fim de 20 anos de serviço ao país, continuar para ter essa reforma no final da carreira e saem. Saem porque as propostas são, obviamente, irrecusáveis”, atirou.

Para o chefe da Força Aérea, esta é uma situação “comum aos três ramos” das Forças Armadas e é uma pressão, por parte do mercado de trabalho, que “não tem abrandado”.

JMF/TYRS // PC

By Impala News / Lusa

Impala Instagram


RELACIONADOS