Crimes contra civis devem ser todos documentados e ter consequências legais, defende investigadora ucraniana
A ativista ucraniana Anastasiia Holovnenko defende que as organizações não-governamentais internacionais devem esforçar-se para garantir que todos os crimes contra civis sejam documentados e tenham consequências legais, numa referência às violações cometidas pelas forças russas na Ucrânia.

“Por exemplo, recentemente, jornalistas de investigação publicaram testemunhos de militares russos que assassinaram civis em Bucha [a noroeste de Kiev]. Se a comunidade internacional não tivesse dado atenção a esses crimes há três anos, e se não tivessem sido abertos processos-crime, esses atos teriam passado despercebidos e os criminosos continuariam impunes”, exemplifica Anastasiia Holovnenko numa entrevista à agência Lusa.
Holovnenko, especialista em comunicação estratégica e que já trabalhou em meios de comunicação social independentes, como o Kyiv Independent e o Hromadske, no Centro Anticorrupção, sustenta que, para o regime do Presidente russo, Vladimir Putin, os direitos humanos “são tóxicos”.
“Para o regime de Putin, os direitos humanos e os princípios do Estado de direito são tóxicos. Passo a passo, o regime tem vindo a destruir sistematicamente todos os sinais de uma sociedade democrática e aberta, promovendo essa destruição como uma nova norma”, afirma Holovnenko, salientando que na Ucrânia é necessária uma grande luta para combater as sucessivas violações.
Segundo a também especialista em comunicação para o impacto social no Centro para as Liberdades Civis, organização não-governamental ucraniana distinguida com o Prémio Nobel da Paz em 2022 e que promove os direitos humanos e a democracia na Ucrânia, a instituição onde trabalha está a tentar apoiar uma forma “de livrar o mundo da constante ameaça russa”.
“Na sociedade ucraniana, apoiamos fortemente e contribuímos para o desenvolvimento do movimento de direitos humanos, pois oferece uma oportunidade de estabelecer padrões democráticos modernos de convivência, tanto a nível interno como com os nossos parceiros”, destaca.
E prossegue: “Também gostaríamos de ver padrões de direitos humanos e garantias de liberdades na Rússia, porque acreditamos que é tão importante para os russos como para nós que, um dia, seja possível construir uma democracia naquele país, o que, do nosso ponto de vista, livraria o mundo da constante ameaça russa”.
Holovnenko realça que, na Rússia, ainda existe uma rede de organizações de direitos humanos, associações de povos oprimidos, movimentos contra a guerra, grupos feministas e de defesa dos direitos LGBTQ+.
“No entanto, trata-se de um país autoritário, onde qualquer atividade que desagrade ao governo é criminalizada, uma situação que tem sido a norma na Federação Russa nos últimos 27 anos”, conclui a ativista.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
*** José Sousa Dias (texto) e Tiago Petinga (foto), da agência Lusa ***
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By Impala News / Lusa
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