Dezenas ocupam portagens da ponte de Maputo totalmente bloqueada

Dezenas de pessoas e viaturas ocupam hoje os acessos entre a portagem e a ponte de Katembe, com o trânsito de e para Maputo cortado por automobilistas que contestam o pagamento, interrompido pelas manifestações pós-eleitorais em Moçambique.

Dezenas ocupam portagens da ponte de Maputo totalmente bloqueada

Pouco antes de entrar na cabine da portagem da ponte, da concessionária Revimo, Luís Manuel preparava-se para imobilizar a viatura, cerca das 09:00 (menos duas horas em Lisboa).

“Eu não estou preparado, nem tenho dinheiro. Isto é uma vergonha, castigam o povo. O povo está a viver numa miséria e ainda castigam o povo”, aponta, enquanto Estélio, numa outra cabine, aguardava no interior do camião, sem pagar, esperando que a cancela, ainda assim, abrisse.

“Hoje não se paga, o presidente decretou para não se pagar (…) Vou esperar. Não tem como”, diz o motorista, referindo-se a um apelo de Venâncio Mondlane, o ex-candidato presidencial que contesta o resultado das eleições gerais de outubro.

Dentro do autocarro, Ana Maria, vendedora de tomate, precisava de ir para a cidade fazer negócio. O autocarro não andava e o negócio também não, até porque não tem alternativa para ir de Katembe ao centro de Maputo: “Não podemos passar esta ponte a pé. Vamos como?”.

Por isso, exigia passar, como todos dentro do autocarro.

“Não se está a pagar hoje, que abram essa portagem (…) Queremos passar. Se o Governo não tem dinheiro, onde é que a população vai arranjar dinheiro para pagar portagem. De onde virá o dinheiro”, questiona.

Apesar de tentativas para negociação com a polícia e elementos da Revimo, cerca das 13:00 a situação mantinha-se sem alteração, com viaturas imobilizadas e pessoas a circularem a pé nos acessos à ponte, enquanto outros já tentavam fazer negócio, vendendo refrescos e comida, face às horas de espera e o calor que se faz sentir, acima de 35 graus.

Os acessos a Maputo pela ponte de Katembe foram bloqueados esta manhã por automobilistas que contestam a concessionária Revimo por voltar a cobrar portagens, o que não aconteceu nas últimas semanas devido às manifestações pós-eleitorais.

Após momentos de tensão, dezenas de pessoas aproximaram-se das portagens e das instalações da Revimo, exigindo o fim da cobrança, tendo sido repelidas pela polícia, cerca das 10:40 (menos duas horas em Lisboa) com tiros e granadas de gás lacrimogéneo, precipintando a fuga, por alguns momentos.

Uma dessas granadas acabou por partir o vidro de uma viatura, uma das dezenas que estava parada na fila à saída da portagem, sem poder avançar devido ao bloqueio à frente, e acabou por deflagrar no interior.

“Eu estava dentro do carro, e o carro pegou fogo, queimou-me o banco e tudo. Estava sozinha, estava a ir para o trabalho, o meu carro é praticamente o último aqui na fila”, descreveu a condutora, que sofreu escoriações e queimaduras.

A ação levou à revolta dos automobilistas e outras pessoas no local, pedindo satisfações à polícia, seguindo-se novos momentos de tensão e tentativas de negociação por parte das autoridades no local, que levou à soltura de um manifestante, cobrador de uma viatura de transporte informal, detido pouco antes, neste protesto contra o regresso do pagamento das portagens.

“Isto para nós é uma surpresa”, afirma Francisco, revoltado.

“Fecharam as estradas, começaram a disparar. Este carro queimou tudo (…) aleijaram a dona do carro e aquele moço que caiu”, acrescenta.

A recusa no pagamento provocava enormes filas, o que levava os responsáveis da Revimo a abrir por momentos, em várias alturas, para escoar o trânsito, sem que os automobilistas pagassem, pelo que a passagem era feita em clima de festa.

Automobilistas imobilizaram viaturas a algumas dezenas de metros antes da praça de portagem, bloqueando por completo o trânsito no acesso a Maputo, levando dezenas de pessoas a deixar as viaturas e fazerem o percurso até à cidade, pela ponte, a pé, apesar da proibição da circulação pedonal, o mesmo acontecendo com as viaturas, que regressavam em contramão numa via rápida de duas faixas.

A Rede Viária de Moçambique (Revimo), responsável pela construção, conservação e exploração de várias estradas nacionais, retoma hoje a cobrança de taxas nas portagens no país, suspensas devido aos protestos pós-eleitorais.

Também a sul-africana Trans African Concessions (TRAC), concessionária da estrada N4, que liga Maputo à fronteira de Ressano Garcia, retomou, na quinta-feira, a cobrança de portagens, causando igualmente revolta popular.

Moçambique vive desde 21 de outubro um clima de forte agitação social, protestos, manifestações e paralisações, convocadas por Mondlane, com confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes, que provocaram pelo menos 315 mortos, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 pessoas baleadas, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que monitoriza os processos eleitorais.

PVJ // VM

By Impala News / Lusa

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