Encontro entre Governo da RDCongo e rebeldes do M23 adiado para momento oportuno
O encontro entre o Governo da República Democrática do Congo e os rebeldes do M23, previsto para hoje em Luanda, foi adiado para “momento oportuno”, devido a “circunstâncias de força maior”, anunciaram as autoridades angolanas.

“O Ministério das Relações Exteriores angolano leva ao conhecimento da opinião pública nacional e internacional que, por motivos e circunstâncias de força maior, não foi possível a realização, esta terça-feira, 18 de março, em Luanda, do encontro programado entre o Governo da República Democrática do Congo e o Movimento Março 23 (M23)”, lê-se no comunicado divulgado hoje ao final da tarde.
O Governo angolano, que assume o papel de mediador na procura de uma solução para o conflito em curso no leste da RDCongo, assegura que “continua a envidar todos os esforços para que o referido encontro se realize em momento oportuno, reafirmando ser o diálogo a única solução duradoura para a pacificação” naquela região da vizinha RDCongo.
Ao final do dia de segunda-feira, o M23 anunciou que cancelava a sua participação no encontro, o primeiro que juntaria à mesma mesa rebeldes e autoridades congolesas, justificando a ausência face a posições de “instituições internacionais”, isto depois do anúncio pela União Europeia de sanções contra uma refinaria sediada em Kigali e nove pessoas ligadas às recentes ofensivas dos rebeldes no leste da RDCongo.
Mesmo após este anúncio, as Presidências de Angola e da RDCongo, que tem uma delegação em Luanda desde segunda-feira, reafirmaram a realização do encontro, que acabou hoje por ser cancelado.
O encontro marcaria o início das negociações diretas para a paz e inseria-se nas “diligências levadas a cabo pela mediação angolana no conflito que afeta o leste da RDCongo”, segundo anunciou a Presidência angolana.
O chefe de Estado angolano, João Lourenço, presidente em exercício da União Africana (UA) desde fevereiro passado, tem atuado como facilitador para promover a paz e a segurança na região e reduzir as tensões entre a RDCongo e o Ruanda, país acusado de apoiar militarmente os rebeldes do M23.
Antes de divulgar a sua ausência, o grupo armado M23 tinha anunciado o envio de cinco delegados a Luanda para participar nas negociações de paz, declarando “profunda gratidão” a João Lourenço “pelos seus esforços incansáveis” para encontrar uma solução pacífica para o atual conflito na RDCongo.
O M23 tem avançado no território democrático congolês desde janeiro, altura em que tomou Goma, capital da província de Kivu do Norte.
Em fevereiro, o M23, que é apoiado pelo Ruanda – segundo a ONU e países como os EUA, a Alemanha e a França -, apoderou-se de Bukavu, a capital estratégica da vizinha província de Kivu do Sul.
Os rebeldes controlam agora as capitais destas duas províncias, que fazem fronteira com o Ruanda e são ricas em minerais como o ouro e o coltan, essenciais para a indústria tecnológica e para o fabrico de telemóveis.
João Lourenço reiterou, na semana passada, a sua preocupação com o terrorismo e extremismo violento, mudanças inconstitucionais de governos democraticamente eleitos e com os conflitos que prevalecem em África, sobretudo no leste da RDCongo e no Sudão.
“Decidimos não cruzar os braços e insistir na busca de soluções pacíficas, não permitindo que se concretize o plano de balcanização em curso, com a criação de um Estado pária no leste da RDCongo, ou mesmo a tentativa de reversão pela via militar do poder instituído em Kinshasa”, referiu quando discursava em Adis Abeba, Etiópia, durante a cerimónia de troca de pastas dos novos membros da comissão da UA.
A atividade armada do M23 – um grupo constituído principalmente por tutsis vítimas do genocídio ruandês de 1994 – recomeçou em novembro de 2021 com ataques relâmpagos contra o exército governamental no Kivu Norte tendo avançado em várias frentes e fazendo temer uma possível guerra regional.
MLL (DAS) // ANP
By Impala News / Lusa
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