Escolha de Sam Hou Fai é sinal de maior integração de Macau na China
O académico Leon Ieong Meng U disse à Lusa que a nomeação de Sam Hou Fai como novo líder de Macau é um marco da integração na China e demonstra que a relação com Pequim mudou.
Sam, antigo presidente do Tribunal de Última Instância de Macau, vai tomar posse a 20 de dezembro, dia em que se assinalam os 25 anos da transferência da administração de Portugal para a China.
“Macau já não é a mesma, devido à mudança das relações entre as autoridades locais e centrais. Neste momento, as políticas do Governo central têm uma influência muito direta”, defendeu Leon Ieong Meng U, professor na Universidade de Macau.
Sam Hou Fai será o primeiro chefe do Executivo a não vir de uma das famílias que tradicionalmente dominaram a economia da cidade, sublinhou à Lusa o antigo presidente do grupo pró-democracia Associação Novo Macau, Jason Chao Teng Hei.
“A China é um país enorme, que Pequim só consegue governar dando às autoridades locais alguma margem de manobra. E depois é preciso um sistema de avaliação do seu desempenho”, explicou Leon Ieong.
Um sistema que anteriormente não cobria Macau, mas que “começou explicitamente a ser aplicado” no território devido ao receio de contágio do movimento pródemocracia que afetou a vizinha região semiautónoma de Hong Kong em 2019, disse o académico.
Leon Ieong acredita que a prioridade para Pequim é a segurança nacional, “por isso talvez queira um candidato que partilhe uma mentalidade semelhante para que possa ter uma melhor interpretação sobre as políticas do Governo central”.
Foi por isso que, após escolher em 2022 o antigo comissário adjunto da polícia John Lee Ka-chiu como líder de Hong Kong, Pequim nomeou um juiz como o chefe do Executivo eleito de Macau, disse Jason Chao.
“As trajetórias são mais ou menos iguais”, explicou o ativista radicado no Reino Unido desde 2017, porque, “aos olhos dos chineses, não há uma grande distinção entre a polícia, o Ministério Público e os tribunais, são um só sistema”.
Tanto Macau como Pequim têm reiterado como uma prioridade uma maior integração, sobretudo na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, um projeto para criar uma metrópole que integre as duas regiões semiautónomas e nove cidades da província vizinha.
“A preocupação é que vemos uma aproximação ao estilo de governação chinês, em que as políticas não são tão transparentes, não são tornadas públicas com antecedência, e alterações podem ser feitas subitamente”, alertou Jason Chao.
Já em termos de integração social, “a tendência é imparável, mesmo que não houvesse uma política governamental a impulsioná-la”, disse o ativista, sublinhando o número de cidadãos de Macau que vivem na cidade vizinha de Zhuhai, onde a habitação é mais acessível.
Em novembro de 2023, abriram as candidaturas para venda apenas a residentes de Macau de quatro mil apartamentos no Novo Bairro de Macau, situado na vizinha Hengqin (ilha da Montanha).
Por outro lado, uma das diferenças mais visíveis das regiões de Macau e Hong Kong continua a ser a possibilidade de aceder a redes sociais e plataformas de mensagens ocidentais, como o Facebook e o Twitter, que estão bloqueadas na China continental.
Mas Jason Chao sublinhou que tem havido “uma rápida adoção” do WeChat apesar dos residentes de Macau saberem que existe censura política nesta plataforma chinesa, semelhante ao WhatsApp.
“Vemos que, com os atuais slogans e políticas, parecem estar a seguir uma integração às cegas”, lamentou à Lusa o deputado Ron Lam U Tou, que defende a continuidade do estatuto especial de Macau após 2049, quando termina o período de transição acordado com Portugal.
“Manter de verdade e aproveitar ao máximo as características de Macau e de Hong Kong ajudaria a servir o país e seria benéfico para todas as partes, mesmo daqui a 25 anos”, acrescentou.
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By Impala News / Lusa
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