Famílias de reféns israelitas pedem ajuda a governos português e europeus

Familiares de três reféns israelitas pediram hoje, em Lisboa, aos governos português e europeus para exigirem a libertação imediata dos seus filhos e irmãos, sublinhando que um tem cidadania portuguesa e os outros têm origem europeia.

Famílias de reféns israelitas pedem ajuda a governos português e europeus

Numa conferência de imprensa realizada em Lisboa, dois pais, dois irmãos e um amigo de três dos reféns sequestrados em Israel a 07 de outubro de 2023 pelo grupo islamita Hamas, e ainda retidos na Faixa de Gaza, pediram ajuda para recuperar os seus familiares e lembraram que estão a lidar com uma organização terrorista.

“Estou aqui porque quero dizer às pessoas de Portugal que têm um cidadão preso em Gaza”, afirmou Eli Shtivi, pai de Idan Shtivi, um fotógrafo amador de 28 anos que foi raptado e está provavelmente morto.

“Têm de fazer alguma coisa por ele, é uma boa pessoa, um bom estudante, queria melhorar o mundo. Têm de acordar já e parar o Hamas”, defendeu o pai do fotógrafo amador, visivelmente emocionado ao mostrar um vídeo onde se veem imagens de guerrilheiros a disparar contra o carro onde Idan e alguns amigos seguiam quando foram parados e perseguidos.

“Peço à comunidade judaica e a todas as comunidades que imponham e exijam o regresso [dos reféns]”, pediu, defendendo que a situação “tem de estar na agenda de todos os partidos políticos portugueses”.

“Vocês têm uma eleição daqui a duas semanas, isto tem de ser falado. Não podem ter um cidadão português nos túneis de terroristas”, sublinhou.

E reforçou: “Hoje somos nós, amanhã podem ser vocês”.

Também Alon Nimrodi, pai de um outro refém israelita, destacou o facto de o seu filho ser um cidadão europeu, adiantando que Tamir, de 18 anos, é cidadão alemão.

“O meu filho tinha 18 anos quando foi raptado, era militar mas não combatente, dava aulas no exército”, começou por contar.

Segundo explicou, o filho foi raptado com dois amigos e a família é a única em Israel que não tem indicação nenhuma sobre o estado deste refém.

Garantindo que Tamir Nimrodi era “uma pessoa que ajudava os habitantes de Gaza” antes do início da guerra, adiantou que isso mostra como “o Hamas não se preocupa com os seus próprios cidadãos [os palestinianos]”.

Alon Nimrodi, como todos os familiares presentes na conferência de imprensa, escusou-se a avançar a sua opinião sobre a atuação do Governo israelita, quer em relação aos reféns quer em relação à intensificação da guerra em Gaza, alegando que “não é político nem militar, mas apenas gente simples”.

Ainda assim, considerou que a única forma de recuperar os 59 israelitas ainda sequestrados pelo Hamas é “chegar a um acordo” e admitiu que um cessar-fogo “pode ser bom para fazer regressar os reféns”.

Questionado sobre se acredita que, mesmo acabando a guerra, israelitas e palestinianos podem viver em paz, Nimrodi – o mais fluente em inglês e, por isso, o familiar que foi mais questionado – admitiu que não acredita em paz com o Hamas.

“Não tenho nada contra muçulmanos”, garantiu, enquanto apontava para o irmão de um dos reféns (um muçulmano chamado Muhammad Al Atrash), dizendo que é “seu ‘irmão’ também”.

Para Nimrodi, o problema são “os terroristas” que acredita terem células em todos os países à espera do momento de “acordar”.

“Nós [Israel] somos a barreira entre a Europa e o terrorismo”, disse.

Também Salem al Atrash, irmão de Muhammad, garantiu que a questão não é religiosa, nem opõe judeus e muçulmanos.

“Isto não é uma forma de atuar do Islão”, afirmou, referindo-se às ações do grupo radical palestiniano Hamas.

“Isto é a forma de atuar do ISIS [sigla em inglês do grupo terrorista Estado Islâmico]”, frisou.

Salem, que já sabe que o irmão está morto, pediu ainda que seja feita toda a pressão possível para fazer regressar às famílias as 59 pessoas ainda presas pelo grupo islamita palestiniano.

“Há pessoas presas em túneis, a morrer à fome. Quanto mais tempo passar, mais difícil é que regressem vivos, mas também é preciso entregar os mortos às famílias”, defendeu.

A questão dos reféns tem sido, nos últimos dias, uma das que tem valido mais acusações ao Governo israelita.

Na segunda-feira, o Fórum das Famílias, associação de familiares dos reféns mantidos pelo Hamas em Gaza, acusou o Governo israelita de querer sacrificar os sequestrados, após a aprovação de uma expansão da ofensiva israelita no território palestiniano.

Este plano merece o nome de “plano Smotrich-Netanyahu” porque “sacrifica reféns”, disse o Fórum em comunicado, referindo-se à influência do ministro das Finanças (extrema-direita), Bezalel Smotrich, no Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

“O Governo admitiu que prefere tomar território a resgatar os reféns, contrariando os desejos de mais de 70% da população”, acrescentou a associação.

O gabinete de segurança de Israel aprovou entre a noite de domingo e segunda-feira a expansão da ofensiva israelita em Gaza, que incluirá a “conquista da Faixa de Gaza”, o controlo de territórios no enclave e a promoção da “saída voluntária dos residentes de Gaza” do território palestiniano, segundo explicou fonte oficial israelita.

O primeiro-ministro israelita “continua a promover o plano [do Presidente norte-americano, Donald] Trump para permitir a saída voluntária dos residentes de Gaza e que as negociações sobre este assunto continuam”, adiantou a mesma fonte.

“O Governo aprovou também, por larga maioria, a possibilidade de distribuição [de ajuda] humanitária, se necessário, para impedir o Hamas de assumir o controlo dos fornecimentos”, explicou.

O plano israelita, que, de acordo com a mesma fonte oficial, será implementado de forma gradual, pode marcar uma escalada significativa dos combates em Gaza, que recomeçaram em 18 de março, depois de Israel quebrar o cessar-fogo que tinha sido estabelecido entre as partes.

Um responsável israelita, citado pela agência de notícias francesa AFP, adiantou que Israel vai deixar, até meados de maio, “uma janela” aberta para permitir negociações para a libertação dos reféns sequestrados pelo Hamas.

A guerra em Gaza começou em 07 de outubro de 2023, quando militantes liderados pelo Hamas atacaram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas e fazendo cerca de 250 reféns. Israel afirma que 59 reféns permanecem em Gaza, embora se acredite que cerca de 35 estejam mortos.

A ofensiva israelita matou mais de 52.000 pessoas em Gaza, segundo autoridades de saúde palestinianas, que não distinguem, nas contagens, combatentes e civis.

Os combates deslocaram mais de 90% da população de Gaza, por vezes mais de uma vez, e transformaram Gaza num local inabitável, onde quase todas as infraestruturas estão destruídas.

PMC (CSR/JSD) // SCA

By Impala News / Lusa

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