Maioria da população da CPLP sem acesso a eletricidade por não ser prioridade dos Governos
Um especialista em energia do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) disse hoje que nos países africanos, incluindo nos da CPLP, a maioria da população continua sem acesso à eletricidade porque isso não é prioridade dos governos.

Carlos Salgado, especialista regional de energia do PNUD, que participou hoje no primeiro painel da manhã da II Conferência de Energia da CPLP, que vai no seu segundo e último dia, no Centro de Congressos do Estoril, em Cascais, referiu que a América Latina conseguiu chegar a uma taxa de acesso a eletricidade de 97% da população utilizando as empresas públicas.
“Em África, sem dúvida que o acesso à energia é uma prioridade número um” para o desenvolvimento do continente, mas só não avança porque “é uma questão de priorização de investimentos públicos”, declarou.
Carlos Salgado salientou que o PNUD e outras organizações falam com o setor público, “porque é ele que vai direcionar para o investimento privado”.
Para além disso, frisou, “em África falta capital humano”.
“Temos que desenvolver esse capital humano, porque o PNUD não pode levar um projeto para África sem ter quem o desenvolva e garanta a sua continuidade”, explicou.
Para Salgado, outro obstáculo ao desenvolvimento do setor energético no continente é a subsidiação aos combustíveis fósseis, ao diesel e à gasolina, “que acontece em muitos países de África”.
“A ideia é redirecionar esses subsídios às míni redes”, destacou em declarações á Lusa, já à margem da conferência.
Carlos Salgado destacou o exemplo de Cabo Verde, que “já não tem um problema de acesso” a energia elétrica, porque 97% da sua população tem eletricidade e o país espera chegar aos 100% da população em 2026, tal como disse hoje, no mesmo painel da manhã, o vogal do conselho de administração da Agência Reguladora Multisetorial da Economia cabo-verdiana, Carlos Ramos.
Mas, Cabo Verde tem o tal problema de custos com “os combustíveis fósseis”, que podem ser redirecionados para a “eletromibilidade e biocombustíveis”, frisou Carlos Salgado.
Garantindo que o PNUD tem projetos novos para acesso à energia em África, Salgado assegurou, na conversa com a Lusa, que o financiamento para os projetos pode ser alcançado quer pela via da junção do “investimento público e privado”, uma espécie de parcerias público-privadas, quer com recurso a instituições financeiras multilaterais e a fundos.
Promovida pelo Governo de São Tomé e Príncipe, que detém a Presidência em exercício da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a conferência que hoje termina no Estoril é organizada pela Comissão Temática de Energia e Clima dos Observadores Consultivos da CPLP, coordenada pela Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER) e pela Associação de Reguladores de Energia dos Países de Língua Oficial Portuguesa (RELOP).
No mesmo painel da manhã, o diretor das Energias Renováveis da Guiné-Bissau, William Araújo, disse que a eletricidade chega a apenas 37% da população guineense e apelou ao investimento e financiamento em projetos de energia limpa no seus país, falando de custos levados com os combustíveis fósseis.
O evento conta com o apoio institucional da CPLP e do Ministério do Ambiente e Energia de Portugal, e com a parceria da Agência para a Energia de Portugal e da Câmara Municipal de Cascais.
Segundo a CPLP, além de ser “um momento de partilha dos últimos desenvolvimentos e projetos-âncora das transições energéticas de cada Estado-membro da CPLP, este evento pretende promover novas parcerias e oportunidades de investimento e financiamento”.
Dez anos depois da primeira conferência, a II Conferência de Energia da CPLP, à margem da III Reunião de Ministros de Energia da comunidade, é um ponto de encontro de governantes, financiadores, empresários e especialistas do setor de energia do bloco.
ATR // MLL
By Impala News / Lusa
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