Migrações: 38.800 pessoas chegaram já às Canárias este ano, o dobro de 2023
Mais de 38.800 migrantes chegaram às Canárias desde o início do ano em embarcações precárias conhecidas como ‘pateras’, o dobro do número registado no mesmo período de 2023, segundo dados oficiais do Governo espanhol divulgados hoje.
Depois de uma diminuição do número de chegadas na primeira metade de setembro (1.234 pessoas), as ‘pateras’ oriundas da costa ocidental africana que alcançaram as ilhas espanholas do Atlântico voltaram a aumentar e só nos últimos 15 dias as autoridades das Canárias registaram 4.050 novos migrantes.
No conjunto de Espanha, os migrantes que entraram no país de forma irregular entre janeiro e setembro aumentaram quase 60% em relação ao mesmo período de 2023 (de 26.540 para 42.231).
A maioria (40.076) entrou por via marítima em Espanha, a bordo de 1.207 embarcações precárias que cruzaram o Atlântico em direção às Canárias ou o Mediterrâneo em direção às costas continentais do país ou às ilhas Baleares.
O aumento global deve-se, precisamente, ao caso das Canárias, porque os números revelam uma diminuição de chegadas de migrantes em ‘pateras’ pelo Mediterrâneo em relação a 2023 (de 9.224 para 10.487).
Espanha – com costas no Mediterrâneo e no Atlântico e duas cidades que são enclaves no norte de África (Ceuta e Melilla) – é um dos países da União Europeia (UE) que lida diretamente com maior número de chegadas de migrantes em situação irregular que pretendem entrar em território europeu.
No último ano e meio, Espanha tem lidado com um pico inédito de chegadas de migrantes às Canárias.
Em todo o ano de 2023, chegaram desta forma ao arquipélago espanhol 39.910 pessoas, o maior número de sempre registado nas estatísticas oficiais.
As autoridades espanholas têm atribuído o número inédito de chegadas às Canárias no último ano e meio à instabilidade política na região africana do Sahel.
A este motivo, as organizações não-governamentais (ONG) somam acordos de países europeus, como Espanha, com Estados africanos para maior controlo de fronteiras e das rotas do Mediterrâneo, que estão a levar os migrantes e as máfias ligadas à imigração para outros percursos e a optar pela “rota do Atlântico”, considerada mais perigosa e mais mortal.
A atualização hoje das estatísticas do Governo espanhol relativas às ‘pateras’ coincidiu, precisamente, com notícias de um naufrágio de uma dessas embarcações, no sábado, ao largo das Canárias, que levava a bordo mais de 60 pessoas.
As autoridades espanholas recuperaram nove cadáveres até agora e há 54 pessoas que continuam desaparecidas, num dos maiores naufrágios de ‘pateras’ de que há registo nas Canárias nos últimos anos.
A questão das migrações e da situação que se vive nas Canárias levou já a duas deslocações este ano do primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, a países da África ocidental.
A primeira deslocação de Sánchez, em fevereiro, foi à Mauritânia e viajou acompanhado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Os dois anunciaram então ajudas de centenas de milhões de euros ao país africano, para gestão de fluxos migratórios e apoio a refugiados, entre outros objetivos.
Na segunda deslocação, no final de agosto, Sánchez esteve na Mauritânia, Gâmbia e Senegal e assinou protocolos nos três países para promover a “imigração regular”, com a contratação de trabalhadores na origem.
A crise migratória com que lidam as autoridades regionais das Canárias, a resposta do Governo central à situação nas ilhas e as deslocações de Sánchez a África colocaram o tema da imigração no centro do debate político e mediático em Espanha nas últimas semanas.
As políticas de imigração levaram, por outro lado, ao fim das coligações de governo do Partido Popular (PP, direita) e do Vox (extrema-direita) em cinco regiões autónomas, em julho.
O Vox condenou os populares por aceitarem um entendimento entre governos regionais para o acolhimento de centenas de menores migrantes não acompanhados que estavam sob tutela das autoridades das Canárias.
MP // SCA
By Impala News / Lusa
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