Milhares manifestam-se em Londres e Madrid por retirada israelita de Gaza
Milhares de pessoas manifestaram-se hoje em Londres e Madrid pela retirada israelita de Gaza e a libertação de palestinianos ilegalmente detidos, na véspera da entrada em vigor do cessar-fogo entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas.
Na capital do Reino Unido, cerca de 30 pessoas foram detidas, a maioria das quais após o protesto, por alegada perturbação da ordem pública ou infração das condições definidas pelas autoridades para a realização do mesmo, que decorreu em geral de forma pacífica, indicou a polícia.
Brandindo cartazes em que se lia “Fim à guerra”, “Parem de armar Israel” ou “Acabem com o genocídio”, os participantes concentraram-se na Whitehall Avenue, onde se situam as instalações do Governo, para ouvir discursos proferidos por membros de uma coligação de grupos de defesa dos direitos dos palestinianos que organizou a manifestação.
O diretor da Campanha de Solidariedade com a Palestina, Ben Jamal, condenou a atitude “repressiva” da polícia britânica, que dois dias antes da marcha tentou obrigar a uma mudança de trajeto, que contou com a aprovação da organização pró-israelita Conselho de Deputados dos Judeus Britânicos.
“Somos nós quem decide onde nos manifestamos, não os grupos sionistas que apoiam o genocídio de Israel” na Faixa de Gaza, afirmou Jamal, num vídeo divulgado nas redes sociais.
Este ativista afirmou que, embora o cessar-fogo — a sua principal reivindicação — seja muito bem-vindo, a luta pelos palestinianos continua, porque há muitas outras exigências pendentes.
“Precisamos que este cessar-fogo seja cumprido. Precisamos da retirada de todas as tropas israelitas de Gaza e que todos os presos ilegais, incluindo 10.000 palestinianos detidos em prisões israelitas e campos de prisioneiros na Faixa de Gaza, sejam libertados e autorizados a regressar às suas famílias”, sublinhou.
Jamal recordou também que é imperativa a abertura de “um fluxo imediato de ajuda humanitária” à população do enclave palestiniano, há mais de 15 meses palco de uma guerra.
A coligação organizadora da marcha indicou que continuará a convocar manifestações este ano e a promover campanhas de boicote e desinvestimento em Israel, para protestar contra o que considera violações do direito internacional pelo Estado hebraico.
Também em Madrid, milhares de pessoas – 2.000, segundo a polícia e 10.000, segundo os organizadores — manifestaram-se hoje à tarde para exigir o “fim do genocídio” e da ocupação da Palestina e que seja imposto um embargo de armas a Israel, bem como a rutura de relações diplomáticas com o país.
Convocadas pela Rede Solidária contra a Ocupação da Palestina (RESCOP), decorreram também hoje manifestações em outras cidades de Espanha, como Málaga, Barcelona (onde se concentraram cerca de 800 pessoas), Córdova, Granada, Palência, Palma, Reus, Rota, Sevilha, Sória, Torrevieja e Saragoça, estando previsto que prossigam até 26 de janeiro num total de 40 municípios.
Com cartazes reclamando uma Palestina livre e a rutura das relações com Israel, a manifestação madrilena começou em Cibeles e passou pela Calle de Alcalá e pela Gran Vía até à Plaza de España, onde foi lido um manifesto.
O documento saudou o cessar-fogo alcançado esta semana entre Israel e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) – desde 2007 no poder na Faixa de Gaza – e que deve entrar em vigor no domingo, mas insta a que não se baixe a guarda.
“O cessar-fogo não significa o regresso à normalidade, nem a chegada de uma paz justa para a Palestina; a Faixa de Gaza está completamente arrasada e mais de 10% da população foi assassinada”, vinca o texto.
Em declarações à comunicação social, a presidente da associação Comunidade Hispano-Palestiniana em Espanha, Saida Ghodaieh, afirmou que o cessar-fogo é um passo “há muito aguardado, muito importante e muito necessário”, mas que chega “muito tarde”, após mais de 15 meses de guerra e cerca de 46.900 mortos na Faixa de Gaza.
“Não é suficiente, porque a ocupação não termina, o embargo desumano a que Gaza tem estado submetida não termina e o ‘apartheid’ na Palestina não termina”, sublinhou, acrescentando: “Continuaremos a sair à rua, lutando dia após dia, noite após noite, para que o nosso povo tenha direito à autodeterminação”.
A secretária-geral do partido de esquerda Podemos, Ione Belarra, apelou para que se “redobre a pressão” sobre Israel, por considerar que, apesar do cessar-fogo “precário” acordado com o Hamas, aquele país “não pôs fim aos seus planos de extermínio do povo da Palestina”.
Belarra afirmou que o cessar-fogo “foi conseguido graças à pressão política” e advertiu que a trégua é, além de “precária”, “possivelmente não definitiva”, razão pela qual considera que “agora é o momento de lutar mais que nunca”.
Por sua vez, o secretário-geral do Partido Comunista Espanhol (PCE) e deputado da Izquierda Unida (IU) no grupo Sumar, Enrique Santiago, concordou que “o extermínio que Israel está a cometer tem de acabar” e exigiu que “os responsáveis por estes graves crimes internacionais sejam levados aos tribunais” para prestar contas.
Os manifestantes apelaram para um embargo total e imediato às armas, o corte de relações diplomáticas, institucionais, económicas, desportivas e culturais com Israel e o cumprimento das exigências do Tribunal Internacional de Justiça (onde a África do Sul apresentou uma queixa contra Israel por genocídio).
Desde há um ano, a RESCOP tem vindo a organizar manifestações mensais para exigir o fim do genocídio na Faixa de Gaza, um embargo de armas a Israel e o corte de relações diplomáticas e militares com aquele Estado.
ANC // JMR
By Impala News / Lusa
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