ONG denuncia alegado suborno ao líder do partido que apoiou Mondlane
A organização não-governamental moçambicana Centro para Democracia e Direitos Humanos submeteu hoje à Procuradoria uma denúncia sobre um suposto suborno ao presidente do partido Podemos, que suportou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane.
“É uma informação de pessoas que se dizem próximas a esta operação. Nós viemos aqui para fazer a denúncia à instituição competente e esta deverá fazer auditoria dos seus gastos públicos e património a partir de uma certa altura”, declarou à comunicação social Adriano Nuvunga, diretor do CDD, momentos após submeter o documento nas instalações do Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) em Maputo.
Em causa está a divergência entre o candidato presidencial Venâncio Mondlane, que lídera a maior contestação aos resultados eleitorais de sempre em Moçambique, e o partido que o suportou, o Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), até ao ano passado uma formação política extraparlamentar que agora é a principal força da oposição no país.
Registado em maio de 2019 e composto por dissidentes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o Podemos viu a sua popularidade aumentar desde o anúncio, em 21 de agosto, do apoio à candidatura de Mondlane nas presidenciais, em resultado de um “acordo político”, pouco tempo depois de Mondlane ter a sua coligação (CAD) rejeitada pelo Conselho Constitucional por “irregularidades”.
Há uma semana, o presidente do Podemos, Albino Forquilha, admitiu existirem divergências na “estratégia de luta” entre o partido e Mondlane, defendendo o fim das manifestações para o diálogo, embora prometa cumprir com o acordo estabelecido.
Apesar do acordo ainda estar em vigor, a relação entre as partes ficou tensa quando o partido decidiu tomar posse no parlamento à revelia de Mondlane, que defende que os resultados foram fraudulentos e, por isso, a tomada de posse, que foi boicota por outros dois partidos de posição (Renamo e MDM), era precipitada.
Segundo a denúncia do CDD, Albino Forquilha terá, supostamente, recebido uma quantia de 219 milhões de meticais (3,3 milhões de euros) para “vender a justiça eleitoral”.
“Tendo sido o pagamento em espécie, como se nos é indicado, também é fácil de rastrear”, acrescentou Nuvunga.
A Lusa contactou o departamento de comunicação do Podemos, que prometeu uma reação em “momento oportuno”.
O Podemos é fruto de uma dissidência de antigos membros da Frelimo, que pediam mais “inclusão económica” e abandonaram o partido no poder, alegando na altura “desencanto” e diferentes ambições.
Os resultados promulgados pelo CC no dia 23 apontam o Podemos como maior partido da oposição em Moçambique no próximo parlamento, com 43 assentos, tirando um estatuto que era da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) desde as primeiras eleições multipartidárias, em 1994.
Dos 250 assentos que compõem a Assembleia da República, a Renamo passou de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares.
A Frelimo, no poder desde a independência, manteve-se com uma maioria parlamentar, com 171 deputados.
Nas presidenciais, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor, com 65,17% dos votos.
A eleição de Chapo como sucessor de Filipe Nyusi é, contudo, contestada nas ruas e o anúncio do CC aumentou o caos que o país vive desde outubro, com manifestantes pró-Mondlane — candidato que, segundo o Conselho Constitucional, obteve apenas 24% dos votos, mas reclama vitória — em protestos a exigirem a “reposição da verdade eleitoral”, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia.
Confrontos entre a polícia os manifestantes já provocaram 300 mortos e mais de 600 feridos a tiro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.
EAC // VM
By Impala News / Lusa
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