Parlamento libanês aprova novo Governo e aumenta isolamento do Hezbollah
O parlamento libanês aprovou hoje um voto de confiança ao novo Governo liderado por Nawaf Salam, que terá de implementar reformas económicas e reconstruir o país devastado pela guerra entre Israel e o enfraquecido movimento xiita Hezbollah.

Salam foi encarregado, em meados de janeiro, de formar governo, após a eleição do antigo comandante das forças armadas Joseph Aoun para chefe de Estado, possibilitada por uma mudança no equilíbrio interno de poder.
O Hezbollah, apoiado pelo Irão e que há muito domina o panorama político libanês, ficou isolado após os reveses que lhe foram infligidos por Israel — que destruiu grande parte do seu arsenal de armamento e eliminou os seus principais líderes políticos e militares – e a queda do regime do seu aliado Bashar al-Assad na vizinha Síria.
Após duas longas sessões, 95 deputados votaram a favor do Governo, 12 votaram contra e quatro abstiveram-se, de acordo com os resultados anunciados na noite de hoje pelo presidente do parlamento, Nabih Berri.
A maioria dos grupos parlamentares, incluindo o Hezbollah, que não tinha endossado o apoio a Salam, votou favoravelmente.
Numa declaração proferida na terça-feira, Salam afirmou que iria garantir ao estado um “monopólio” sobre as armas e adotar uma política de neutralidade, longe dos eixos regionais.
O novo Governo de Beirute comprometeu-se hoje a reforçar a soberania do Estado em todo o território “apenas com as suas próprias forças”, segundo o acordo de cessar-fogo, e a defender o país só em caso de guerra.
Ao contrário de pronunciamentos anteriores, não incluiu a expressão “resistência armada”, que era vista como legitimadora da posse de armas pelo Hezbollah fora do controlo do Estado.
O Hezbollah tem mantido as suas armas nas últimas décadas, alegando que eram necessárias para defender o país contra Israel.
O novo executivo indicou também que a prioridade do seu Governo seria trabalhar para “uma retirada total israelita dos territórios libaneses”.
O acordo de cessar-fogo que interrompeu em novembro o conflito entre Israel e o Hezbollah estipula que as forças israelitas devem retirar-se do sul do território libanês, enquanto o movimento xiita deve manter-se afastado da fronteira entre os dois países e desmantelar as suas infraestruturas militares.
No entanto, após o prazo estabelecido pelo acordo, Israel manteve-se em cinco posições que considera estratégicas no sul do Líbano.
O conflito começou em 08 de outubro de 2023, um dia depois do ataque do grupo islamita palestiniano Hamas, aliado do Hezbollah, no sul de Israel, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza.
Após quase um ano de trocas de tiros diárias entre Israel e o Hezbollah, as forças israelitas lançaram a partir de setembro de 2024 um grande ataque contra o grupo armado libanês, que provocou mais de três mil mortos e acima de 1,2 milhões de deslocados, segundo as autoridades de Beirute.
Formado no início de fevereiro, após mais de dois anos de um executivo interino, o novo Governo enfrenta desafios em grande escala, incluindo a reconstrução de grandes áreas do país devastadas pela guerra com Israel.
Terá também de combater a corrupção endémica no país, um requisito para receber ajuda financeira internacional.
Nawaf Salam disse hoje que o seu Governo vai pôr em prática “um plano abrangente para a recuperação económica e financeira”, depois do colapso ocorrido em 2021, e “iniciar novas negociações com o Fundo Monetário Internacional”.
O Líbano está mergulhado numa crise profunda desde 2019, que atirou uma grande parte da população para a pobreza e uma desvalorização sem precedentes da sua moeda.
A crise foi agravada pela explosão no Porto de Beirute no ano seguinte, pela pandemia de covid-19 e, no último ano, pelas hostilidades entre Israel e o Hezbollah.
HB // ACC
By Impala News / Lusa
Siga a Impala no Instagram