Passos pede “sinal forte” e entendimentos para responder aos que votaram desiludidos
O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho pediu hoje que se dê um “sinal muito forte” para responder aos que expressaram desilusão nas últimas eleições e que não se criem desentendimentos teatrais no espaço político.
Na apresentação do livro “Identidade e Família”, em que marcaram presença os líderes do Chega, André Ventura, e do CDS-PP, Nuno Melo, Passos Coelho defendeu que tem de haver uma capacidade de as pessoas “se entenderem coletivamente” e avisou que não se pode dizer aos eleitores que se tem “muito respeito pelas suas preocupações”, mas não pela escolha que fizeram nas urnas.
“Isso é um bocadinho um insulto às pessoas, não podemos dizer ‘estou muito preocupado com os seus anseios, mas se fizer esta escolha, daqui não leva nada, se fizer aquela escolha, comigo não fala'”, afirmou.
Sem explicitar os destinatários, mas numa aparente referência a PSD e Chega, o antigo primeiro-ministro disse que “quando há identidades firmadas” não há que ter medo de os espaços políticos “se diluírem ou confundirem entre si”.
“É fundamental olhar para as pessoas que ficaram desiludidas nestes anos (…) e que deram um sinal muito claro nas últimas eleições que estão cansadas disso. É bom que todos aqueles que receberam um sinal de confiança muito forte para pôr fim a isso que ponham realmente fim a isso e que deem às pessoas razões para acreditar que vale a pena fazer um jogo diferente”, disse.
E insistiu: “Temos de salvaguardar esta capacidade de nos podermos entender, eu sei que, por vezes, no plano da política há uma intenção grandemente simbólica de usar uma certa linguagem deliberadamente para nos desentendermos ou nos fazermos desentendidos”.
“Eu acho que era preferível que oferecêssemos às pessoas uma imagem diferente. Há muitas pessoas que se começam a maçar desse teatro, trata-se de uma teatralização que não é genuína, não é autentica, é tática”, disse, avisando que as pessoas não gostam de ser tratadas “como figurantes ou meros pretextos para outros realinhamentos”.
O antigo presidente do PSD defendeu que “a política só ganha” se as pessoas forem tratadas “com inteligência”: “Deixá-las decidir e, quando decidem, devemos respeitar as suas escolhas e decisões, sabendo que cada um tem a sua fatia, o seu argumento”, disse.
À entrada, Passos Coelho tinha sido questionado se ficava satisfeito com a presença de André Ventura na apresentação do livro, respondendo afirmativamente: “Fico satisfeito com essa e com a presença de muitas outras pessoas”.
Questionado como responde a quem o acusa de se estar a aproximar do Chega, deixou uma garantia: “Não me diga, eu sou do PSD, julgo que não há ninguém que tenha dúvidas sobre isso”.
No final, o líder do Chega fez questão de cumprimentar Passos Coelho e elogiou a sua intervenção: “Foi brilhante, como sempre”.
“Já nos cumprimentámos e já o felicitei pela sua eleição e pela prestação que tem tido no parlamento, temos de reconhecer o mérito dos outros. Bom mandato, os meus amigos mantenham uma certa…”, respondeu Passos Coelho, com Ventura a completar a frase com a palavra “cortesia”.
Aos jornalistas, à saída, Ventura considerou que a intervenção de hoje de Passos Coelho tocou mais “em bandeiras do Chega, como a ideologia de género, a família ou a imigração”.
“É justo dizer que há um caminho de convergência na lógica do dr. Pedro Passos Coelho, mas apenas isso. Essa convergência talvez permita um candidato presidencial, porque não Pedro Passos Coelho?”, sugeriu.
A apresentação do livro “Identidade e Família — Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade” decorreu numa livraria totalmente sobrelotada em Lisboa e, a meio, no exterior, houve um pequeno protesto de cerca de uma dezena de jovens, alguns de máscara, outros com bandeiras arco-íris, símbolo da comunidade LGBTQI+, que gritavam palavras de ordem, mas que dispersaram antes da saída dos participantes.
SMA // JPS
By Impala News / Lusa
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