Polícia catalã admite “erros técnicos e formais” na fuga de Puigdemont em regresso à Catalunha

A polícia catalã admitiu que o dispositivo policial concebido para prender o ex-presidente do governo regional Carles Puigdemont durante a sua fugaz visita à Catalunha, a 08 de agosto, teve “erros técnicos e formais”, foi hoje divulgado.

Polícia catalã admite

Um desses erros, mencionado no relatório que a polícia da Catalunha (Mossos d’Esquadra) entregou na terça-feira à justiça e noticiado pelo jornal El Confidencial, é o facto de um ‘drone’ ter seguido uma comitiva que se dirigia ao parlamento e ter perdido o ex-presidente.

O juiz do Supremo Tribunal de Justiça, Pablo Llarena, exigiu que tanto o Ministério do Interior como a polícia da Generalitat (governo catalão) o informassem dos dispositivos de detenção de Puigdemont, que não impediram a sua fuga.

No relatório, os Mossos fazem uma certa autocrítica, admitindo que o dispositivo tinha “erros técnicos e formais” e que não deu os resultados esperados, segundo adiantaram à agência de notícias espanhola EFE fontes próximas do caso.

De acordo com este relatório, o antigo presidente da Generalitat gerou uma “situação de confusão policial e incerteza” que facilitou a sua fuga ao “desviar a atenção da polícia”.

Dias antes, o ex-líder catalão, exilado na Bélgica desde o processo frustrado de independência da Catalunha, em 2017, tinha dado como certo que seria detido quando regressasse a Espanha, onde tem um mandado de captura nacional, depois de não lhe ter sido aplicada a amnistia pelo crime de peculato.

Os Mossos alegam que houve um “engano orquestrado” por parte de Puigdemont e da sua comitiva imediata, uma vez que a polícia da Generalitat não tinha considerado como “uma possibilidade” que o ex-presidente fugisse depois de proferir um breve discurso de apenas cinco minutos no Arco do Triunfo, em Barcelona.

Este discurso ocorreu pouco antes da investidura de Salvador Illa como presidente da Generalitat no parlamento, na sequência da vitória do Partido Socialista catalão nas eleições regionais antecipadas. Puigdemont tinha anunciado que a sua intenção era estar presente nessa sessão parlamentar, depois de ter sido eleito – o seu partido, Juntos pela Catalunha, ficou em segundo lugar no escrutínio realizado em maio.

O relatório dirigido a Llarena, assinado pelo comissário-chefe dos Mossos, Eduard Sallent, sustenta que os agentes não tiveram tempo para reagir, pois houve uma “manobra de distração” promovida pelos “colaboradores próximos” de Puigdemont.

Assim, embora agentes à paisana da Polícia de Informação, com o apoio aéreo de ‘drones’, tenham seguido Puigdemont no final da sua intervenção, a certa altura estes dispositivos focaram as autoridades que se dirigiam para o parlamento, supostamente acompanhando o antigo presidente, que, no entanto, conseguiu fugir num carro branco.

De acordo com o relatório, o ‘drone’ aéreo com câmara utilizado pelos Mossos d’Esquadra para seguir Puigdemont deixou de focar o ponto onde se encontrava o ex-presidente pouco antes do momento da sua fuga de carro, já que em vez de manter o aparelho na zona onde se encontrava o veículo, focou as autoridades e as dezenas de pessoas que se dirigiam para o parlamento.

A polícia da Generalitat, no relatório, assinala que os factos ocorreram muito rapidamente e num espaço repleto de pessoas, cerca de 3.000, que se tinham reunido no Passeig Lluís Companys para dar as boas-vindas a Puigdemont, o que também dificultou a visibilidade, para além das várias vedações que isolavam a zona.

O relatório conclui que a fuga de Puigdemont se deu “graças a uma manobra de diversão desenvolvida com a cooperação involuntária de milhares de pessoas e a atividade organizada de um grupo de colaboradores próximos”.

Além disso, descreve que, apesar de os Mossos terem destacado 600 efetivos e mobilizado ‘drones’, “apenas um polícia” observou Puigdemont, após o discurso, a entrar no carro para fugir.

No entanto, o polícia apenas conseguiu avisar a sua chefia por telefone e também cometeu um erro, ao confundir a marca do veículo – disse que o carro era um Peugeot quando na verdade era um Honda HRV -, perdendo-lhe o rasto quando um semáforo ficou verde.

De acordo com a polícia, para além deste agente, os restantes Mossos destacados na via pública e o pessoal que se encontrava no centro de coordenação “estavam convencidos” de que Puigdemont se encontrava entre a comitiva de políticos e autoridades que se dirigiam para o parlamento.

Uma vez confirmado que Puigdemont não estava na comitiva, os agentes efetuaram as comunicações “correspondentes” ao resto das forças de segurança, ativaram a chamada “operação Jaula” e enviaram tropas para todos os aeroportos, aeródromos e heliportos da zona de Barcelona.

Os Mossos reconhecem que, embora tenham conseguido garantir o normal desenvolvimento do debate de investidura, não “atingiram” o objetivo de deter o ex-presidente, porque “não tiveram a oportunidade policial” de o deter.

A este respeito, salientam que não prenderam Puigdemont nos momentos que antecederam o seu discurso porque ele estava rodeado de apoiantes e “era muito provável” que tivessem de exercer uma força “provavelmente excessiva e até desproporcionada”.

No relatório, os Mossos salientam ainda que foram detidos três oficiais por alegado envolvimento na fuga do antigo presidente catalão.

JH // SCA

By Impala News / Lusa

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