PR guineense lamenta falta de sensibilidade de Portugal na apreensão de passaportes
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, lamentou hoje a falta de sensibilidade de Portugal à questão religiosa quando decidiu apreender 353 passaportes de peregrinos do país que deviam seguir para Meca, na Arábia Saudita.

“É lamentável. Entendo que não foram sensíveis na apreensão dos passaportes”, declarou Sissoco Embaló, em declarações aos jornalistas, à margem da cerimónia de posse que conferiu aos presidente e vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
Na semana passada, a Polícia de Segurança Pública apreendeu, no aeroporto de Lisboa, 353 passaportes da Guiné-Bissau na posse de um homem que os transportava de Bissau para Bruxelas.
O ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Carlos Pinto Pereira, assumiu, na segunda-feira passada, que se tratam de passaportes “legítimos, emitidos pelas autoridades” de Bissau e que se destinam aos peregrinos que deveriam embarcar da Bélgica para a Arábia Saudita.
Pinto Pereira disse não estar a pretender afirmar que a atuação das autoridades portuguesas seja uma discriminação, mas lamentou a forma como a comunicação social do país tem tratado os assuntos da Guiné-Bissau.
“O Governo da Guiné-Bissau não quer, de maneira nenhuma, pensar que se trata aqui de medidas discriminatórias, porquanto, de facto, não é a primeira vez que, quando está no poder alguém que não seja de origem católica, alguém que seja por exemplo de origem muçulmana, as notícias normalmente são enviesadas”, disse.
Umaro Sissoco Embaló afirmou hoje estar de acordo com Carlos Pinto Pereira, porque, “de cada vez” que a Guiné-Bissau tem um Presidente muçulmano, “acontecem situações de hostilidade”, nomeadamente por parte da comunicação social portuguesa.
“Não quero dizer que há hostilidade de Portugal, porque isso não me diz muito, mas aconteceu com Malam Bacai Sanha, com Serifo Nhamadjo e agora se passa a mesma coisa com Umaro Sissoco Embaló”, disse o Presidente guineense, referindo-se a chefes de Estado de confissão muçulmana.
Sissoco Embaló observou que a questão dos passaportes devia ser tratada com “sensatez e prudência” devido à sua sensibilidade, por se tratar de assuntos ligados à religião das pessoas.
“Quer dizer que aqui não é uma República de cristãos e nem de muçulmanos. É a República da Guiné-Bissau, um país laico como Portugal, mas sempre que temos cá um Presidente muçulmano, Portugal age de outra forma, ou a comunicação social portuguesa, aqui concordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros”, sublinhou Embaló.
O Presidente guineense considerou que a situação “é incompreensível”, sobretudo numa altura em que as relações entre a Guiné-Bissau e Portugal “ultrapassaram estas questões”.
“O assunto da peregrinação é muito sensível em qualquer parte do mundo. Nós não brincamos com a questão da religião, de modos que as pessoas falharam, porque lhes foi facultado todo o tipo de documentação, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português também facultou documentos ao Ministério Público, que não foi sensível”, lamentou o chefe de Estado guineense.
Segundo Sissoco Embaló, a situação já está ultrapassada.
MB // MLL
By Impala News / Lusa
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