PSD diz que Soares lutaria hoje contra populismos, Chega demarca-se da sessão solene
O PSD defendeu que Mário Soares seria hoje, como foi no passado, um lutador contra radicalismos e populismos, com a direita a apontar-lhe erros cometidos na descolonização mas apenas o Chega a demarcar-se da sessão solene.
Na sessão solene evocativa dos 100 anos do nascimento de Mário Soares, na Assembleia da República, o deputado do PSD António Rodrigues defendeu que recordar o histórico socialista “é celebrar Abril e o papel de todos aqueles que contribuíram para a construção da democracia, sem atender a dogmatismos ideológicos e dissidências políticas”, recebendo aplausos quer do PS quer do PSD.
“Falamos do homem que, a par de Francisco Sá Carneiro, lutou intransigentemente contra os radicalismos da extrema-esquerda e da extrema-direita durante o PREC. Falamos do europeísta convicto, que foi determinante para a adesão de Portugal às Comunidades Europeias”, disse, recordando-o como “uma das maiores personalidades da nação das últimas décadas”.
António Rodrigues lembrou também Soares como alguém pouco dado a consensos e “cujos detratores lhe atribuem responsabilidades num incomodo processo de descolonização”, preferindo sugerir qual seria o seu papel atual, se fosse vivo.
“Estaria hoje na linha da frente do combate contra os radicalismos que assolam o nosso país e, em particular, contra todos aqueles que querem tornar este parlamento numa mera política do espetáculo. Por mais tarjas que se pretendam pendurar e muros que se pretendam erguer, não devemos, nunca, dar por adquirida a luta iniciada por Mário Soares após o 25 de abril: a democracia não é um dado adquirido, constrói-se todos os dias, com todos e para todos”, enfatizou.
Antes, o presidente do Chega, André Ventura, recordou “o papel incontornável” de Soares no 25 de Novembro e nos primeiros passos do país na Europa, mas fez o discurso mais crítico para o evocado.
“Não podia estar hoje neste plenário se não deixasse claro e transmitisse em nome do partido que esta cerimónia solene desta forma, neste modelo, não deveria estar a acontecer”, afirmou.
Ventura acusou Soares de ter sido “cúmplice e ativista de um sistema de donos disto tudo, que se iniciou à sua sombra e se manteve à sua sombra”.
“À sombra de Mário Soares, o espírito do PS apoderou-se do aparelho do Estado”, criticou, acusando-o ainda de ser responsável por uma “descolonização desumana e mal feita”.
O ministro da Defesa e líder do CDS-PP, Nuno Melo, saiu a meio deste discurso e já não ouviu Ventura dizer que “nenhuma cerimónia evocativa poderia esquecer um legado profundamente negro” que considera ter tido Mário Soares.
Pela Iniciativa Liberal, o líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, referiu que, como todas as grandes personalidades, Soares “tem sombras e luzes”.
“Neste centenário do seu nascimento, devemos concluir que o balanço global da sua atuação política é positivo. Em momentos fundamentais da nossa democracia, ele esteve do lado certo”, disse, apontando o combate ao Estado Novo ou o posicionamento contra o comunismo.
Do lado negativo, apontou a Soares responsabilidades em características negativas do sistema que perduram como “o centralismo, um estado omnipresente , o compadrio, o despesismo e o dirigismo”, e aludiu igualmente ao seu papel na descolonização e à forma como geriu, já em Belém, os “assuntos de Macau”,
Pelo CDS-PP, o deputado João Almeida recordou o contributo político para a democracia do “adversário político” Mário Soares, mas também “as divergências profundas” e o que classificou do seu “maior erro político”.
“Não poderíamos recordar o legado de Mário Soares, sem lembrar os portugueses que, em 25 de Abril de 1974, viviam nos territórios ultramarinos e que foram vítimas de uma descolonização apressada, desumana e irresponsável”, criticou, numa passagem que mereceu palmas da bancada do Chega.
No entanto, o deputado do CDS-PP fez questão de reconhecer “o contributo decisivo e convicto de Mário Soares para o triunfo da democracia em Portugal”, enaltecendo “o combate sem tréguas à extrema-esquerda e às suas intenções totalitárias”.
“É justo reconhecer que Mário Soares, quando estava em causa a governabilidade e o interesse nacional, sempre procurou equilíbrios e apoios à sua direita e não à sua esquerda. Com Soares nunca houve maiorias construídas à esquerda do PS”, destacou, vincando diferenças para o atual PS, “que tantas vezes cede à tentação do radicalismo e do frentismo de esquerda”
Mário Soares nasceu em 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, e morreu em 07 de janeiro de 2017, aos 92 anos, em Lisboa.
SMA (IEL) // SF
By Impala News / Lusa
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