Queixoso de agressão por segurança do PR guineense afirma que se sentiu “enganado”
Um dos cidadãos guineenses que afirma ter sido agredido pela segurança do Presidente da Guiné-Bissau, num encontro com a comunidade guineense em Paris, domingo, disse hoje ter-se sentido “enganado” com o convite feito à diáspora.
“Eu sou um cidadão guineense que estava lá e que não estava a reivindicar nada. A única coisa que [me] recusei foi de usar a ‘Khala’ [lenço muçulmano que Umaro Sissoco Embaló utiliza como peça identitária da sua ação de campanha política, distribuído à chegada dos participantes], que, para mim, não era o que me definiria como guineense”, disse à Lusa Paulo Mendes Cassama, de 58 anos, um dos cidadãos que alega ter sido agredido pela segurança do Presidente guineense.
Paulo Mendes Cassama e dois outros membros da diáspora guineense em França, Olívio Barreto e Nheta Danfa, afirmam ter sido agredidos e “tratados como inimigo” num evento do Consulado Geral da Guiné-Bissau em Paris aberto a toda a comunidade guineense.
Segundo Cassama, os três apresentaram, na segunda-feira, uma queixa na esquadra da polícia em Republique, em Paris, “contra a segurança, principalmente em nome de todos os intervenientes na situação, tanto os senhores da Embaixada, como os guarda-costas do Presidente”.
“Eu estou num país de direito já há quase 20 anos. Então, eu espero que a justiça seja feita. É [o] que eu peço, não peço mais nada”, afirmou.
Na queixa, disse, foi também mencionada a polícia francesa por “negar assistência [a] pessoa em perigo”, por, ao chegarem ao local do encontro, no terceiro bairro de Paris, os agentes apenas terem identificado os membros da comunidade guineense em França e lhes terem pedido para saírem da zona, negando assistência médica, apesar dos hematomas e sangue visíveis.
“Nós percebemos que não é normal que a polícia chegue em um sítio numa situação dessas para mandar uma equipa embora sem saber o porquê e, ainda por cima, encontrar alguém com sangue”, referiu.
Paulo Mendes Cassama disse ter sido levado por outros cidadãos presentes no local até ao hospital do Nord, onde ficou algumas horas a receber cuidados a lesões que se revelaram não ser graves, mas que, assegurou, lhe deixaram muitas dores até hoje, principalmente no braço direito.
Segundo o cidadão guineense, que reside desde 2005 em Paris, no evento estavam também representantes das comunidades guineenses na Alemanha, Inglaterra, Reino Unido, Suíça, Bélgica e do Luxemburgo, mas os representantes de França foram ignorados até Olívio Barreto, o outro queixoso, ter pedido para intervir.
No seu relato, Cassama afirmou que, quando Olívio Barreto foi tentar cumprimentar a mesa do Presidente e colocar questões, Sissoco Embaló se recusou a apertar-lhe a mão, acusando-o de “andar na rede social a falar mal dele”, o que fez com os dois cidadãos quisessem ir embora do encontro, ao perceberem que afinal era “político” e de apoio “a um [segundo] mandato do Presidente”, mas acabaram por ser agredidos.
Paulo Mendes Cassama disse que foi agredido por um total de quatro homens.
Na terça-feira, o Presidente da Guiné-Bissau afirmou que o seu corpo de segurança o protegeu em Paris, num encontro com a comunidade guineense, “perante ameaças de violência” e negou que tenha atuado à margem da lei.
“A declaração do Presidente não surpreende a ninguém” , disse, acrescentando que “as imagens falam por isso”.
O guineense, que realizou uma operação cervical recentemente, disse ter ficado com o “braço direito todo imobilizado” e só conseguiu sair pela porta porque uma mulher o ajudou enquanto os agressores lhe diziam que o “iam matar”.
Paulo Mendes Cassama disse “ter fé” que algo seja feito, já que nenhum dos agredidos “fez nada” que provocasse as agressões, defendendo que os responsáveis deveriam ter apenas colocado as pessoas na rua se houvesse “barulho ou desordem”.
“O povo é como uma criança em casa: a barriga cheia e põe a brincar, é tudo. Têm um hospital, têm uma escola, têm infraestruturas a marchar, o resto o povo não se importa, é um povo que contenta com pouco”, afirmou, referindo que questões sobre hospitais, bem-estar social e segurança na Guiné-Bissau não foram respondidas no encontro.
MYCO (MB) // MLL
By Impala News / Lusa
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