Rússia e Irão assinam acordo estratégico com reforço de cooperação militar
Os presidentes russo e iraniano assinaram hoje em Moscovo um novo acordo de parceria estratégica, que prevê o reforço da cooperação militar, no primeiro encontro dos dois líderes desde a queda do regime sírio, que era apoiado por ambos.
Os dois países, que partilham uma postura de oposição em relação ao Ocidente, acertaram a realização de exercícios militares e vários procedimentos de defesa “com o objetivo de desenvolver a cooperação militar”, segundo um dos artigos do acordo.
Sujeitos a pesadas sanções internacionais que afetam as suas economias, a Rússia e o Irão caminharam para uma aproximação acelerada nos últimos anos, principalmente desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Os dois países sofreram por outro lado um fracasso comum e perda de influência regional no Médio Oriente em dezembro com a deposição do regime do seu aliado Bashar al-Assad, associado também ao enfraquecimento do movimento xiita libanês Hezbollah, apoiado por Teerão.
Este é um texto “com objetivos ambiciosos”, elogiou o Presidente russo, Vladimir Putin, sublinhando que Moscovo e Teerão se opõem conjuntamente a “qualquer ditame vindo do exterior”.
O acordo inclui planos de desenvolvimento de cooperação militar e apoio mútuo face às “ameaças de segurança”, segundo com o conteúdo do texto de 47 artigos publicado pelo Kremlin após a assinatura.
De acordo com o documento, se a Rússia ou o Irão enfrentarem a agressão, o outro país não prestará qualquer ajuda ao país agressor.
Este ponto, contudo, não prevê que os dois países prestariam assistência militar um ao outro.
Moscovo concluiu um texto com o mesmo título com a Coreia do Norte no ano passado. Um artigo deste documento prevê a “ajuda militar imediata” em caso de agressão armada por parte de um país terceiro.
Mas o chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araghchi, citado pelos meios de comunicação russos, tinha afirmado esta semana que o tratado não tinha como objetivo “criar uma aliança militar” semelhante à selada entre Moscovo e Pyongyang.
A Coreia do Norte é acusada por Kiev e pelo Ocidente de enviar soldados para combater com o Exército russo contra as forças ucranianas. Os dois países não confirmaram nem desmentiram, apesar de várias provas obtidas no terreno de combate.
O Irão, por sua vez, é acusado pelo Ocidente de fornecer ‘drones’ e mísseis de curto alcance à Rússia, ajudando assim o Exército russo na Ucrânia, acusação rejeitada Teerão.
O acordo prevê ainda intercâmbios “na área dos usos pacíficos da energia atómica”, nomeadamente a construção de instalações de energia nuclear.
Esta assinatura acontece poucos dias antes do regresso ao poder em Washington do republicano Donald Trump, que executou uma política conhecida como “pressão máxima” em relação ao Irão durante o seu primeiro mandato na Casa Branca (2017-2021).
O Presidente eleito dos Estados Unidos, que toma posse na segunda-feira, prometeu ainda terminar rapidamente o conflito na Ucrânia, sem especificar como.
O líder iraniano, Massoud Pezeshkian, pediu, durante a conferência de imprensa conjunta com Vladimir Putin, “negociações e paz” entre Moscovo e Kiev, três anos depois do início do ataque lançado pelo Kremlin.
Uma tradução russa anterior dos seus comentários referia uma “solução política” do conflito.
Os dois líderes relataram que também discutiram o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, com Putin a dizer que esperava uma “estabilização a longo prazo”, embora a primeira fase da trégua tenha a duração de apenas 42 dias.
“Esperamos que seja estabelecido um cessar-fogo permanente em Gaza e que as agressões nesta terra parem”, comentou, por seu lado, Massoud Pezeshkian, que saudou também os progressos previstos no entendimento em relação à energia nuclear.
Esta parceria estratégica, que estava em negociação há anos, representa os contornos dos próximos 20 anos de relações bilaterais, em 47 artigos relacionados com tecnologia, informação e cibersegurança, colaboração em energia nuclear e esforços antiterroristas.
O entendimento abrange ainda a cooperação regional, questões ambientais, o Mar Cáspio e o combate ao branqueamento de capitais e ao crime organizado.
“Estou muito satisfeito por as negociações terem sido concluídas com sucesso”, comentou o Presidente russo, Vladimir Putin, após o seu encontro com o homólogo iraniano sobre um acordo que dará “um impulso adicional a quase todas as áreas de cooperação” entre os dois países.
“Estou confiante de que a assinatura do nosso acordo abrangente hoje dará um grande impulso ao desenvolvimento das relações bilaterais e se tornará uma base sólida para um maior progresso”, acrescentou Masud Pezeskhian.
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By Impala News / Lusa
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