Venâncio Mondlane acusa PGR moçambicana de parcialidade
O político Venâncio Mondlane acusou hoje a Procuradoria-Geral da República (PGR) moçambicana de parcialidade, ao ser célere a atuar contra si e não em relação às denúncias que diz ter feito nos últimos meses.

“As minhas expectativas não são assim tão grandes”, disse o ex-candidato presidencial, em declarações aos jornalistas no aeroporto de Maputo, depois de alguns dias ausente do país, no Botsuana, quando questionado sobre a convocatória para prestar declarações na PGR na terça-feira, revelando ter conhecimento que é visado em oito processos.
“Qual deles que vou responder amanhã, não sei. Mas estou pronto”, disse, afirmando que o objetivo destes processos é “intimidar, aterrorizar, meter medo”.
Por outro lado, Venâncio Mondlane recordou os vários processos e queixas que submeteu nos últimos meses à PGR, incluindo uma alegada tentativa de atentado contra a sua vida durante a campanha para as eleições gerais de 09 de outubro, em que concorreu à Presidência da República.
“Desfecho nenhum até agora”, apontou, exemplificando igualmente com a queixa que apresentou na PGR de 398 casos de “violência extrema” contra elementos da sua “organização política”, incluindo “40 mortos”, também sem desenvolvimentos, segundo disse, acusando por isso aquela instituição de “parcialidade”.
“Vou tranquilo, nem preciso de fazer uma grande preparação (…). São tantos casos”, insistiu, sobre os processos que tem vindo a denunciar publicamente.
A audição de terça-feira – segundo fonte da PGR, no âmbito de um “processo-crime movido no ano passado” -, do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, no Ministério Público, em Maputo, estava prevista para hoje de manhã, mas, a pedido do próprio, foi adiada para terça-feira às 09:00 locais (menos duas horas em Lisboa).
Trata-se de um entre pelo menos dois processos publicamente conhecidos que correm contra Mondlane na PGR, na sequência das manifestações que o político tem liderado desde outubro contra os resultados eleitorais.
Desde a última quarta-feira que o ex-candidato presidencial não fazia qualquer declaração pública, quando a polícia moçambicana disparou para dispersar uma multidão que seguia uma caravana liderada pelo político, o que precipitou a sua fuga do local.
Durante a ausência de Moçambique, Mondlane garante ter mantido encontros de trabalho, nomeadamente com o antigo Presidente do Botsuana Ian Khama.
“Não havia razões nenhumas para fugir [do país]”, respondeu, sobre a ausência.
“Estou disponível para tudo aquilo que for para defender este povo”, insistiu.
Em 22 de novembro, o MP moçambicano exigiu uma indemnização de 1,5 milhões de euros pelos prejuízos das manifestações na província de Maputo, num novo processo contra Mondlane e o Podemos, partido que o apoiava até fevereiro deste ano.
Esta foi uma segunda ação cível do género conhecida, depois de uma outra que o MP deu entrada no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, só referente a prejuízos na capital, pedindo uma indemnização de 32.377.276,46 meticais (486 mil euros).
Por outro lado, em 27 de janeiro, a PGR anunciou a abertura de processos considerando que o autodenominado “decreto presidencial” de Mondlane subverte os princípios do Estado democrático.
Em causa estava um documento assinado e divulgado por Mondlane na altura, intitulado “decreto”, publicado no autodesignado “Jornal do Povo”, com 30 medidas para 100 dias, sendo que, numa delas, o político afirma que “cabe ao povo, às vítimas, instituir-se como tribunal autónomo que emite sentenças para travar a onda macabra da UIR, GOE e Sernic”, referindo-se a unidades da Polícia da República de Moçambique que acusou de “incessante fulgor de execuções sumárias”.
“A publicação do suposto decreto, pelo mesmo cidadão, consubstancia uma flagrante violação (…) da Constituição da República, uma vez que este ato constitui uma prerrogativa reservada aos órgãos competentes do Estado e é publicado em Boletim da República”, acrescentava a procuradoria em comunicado.
Mondlane, apontado pelo Conselho Constitucional como o segundo mais votado nas eleições presidências de 09 de outubro, lidera a maior contestação aos resultados eleitorais que Moçambique viveu desde as primeiras eleições multipartidárias, em 1994.
O escrutínio deu vitória a Daniel Chapo, já empossado como o quinto Presidente de Moçambique.
Desde o início das manifestações, em outubro, pelo menos 353 pessoas morreram na sequência de confrontos entre a polícia e os manifestantes durante os protestos, de acordo com a Plataforma Decide, uma organização não-governamental que acompanha o processo eleitoral, enquanto o Governo confirmou 80 óbitos.
PVJ // MLL
By Impala News / Lusa
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