A história de uma bebé a quem o vírus do herpes deixou com paralisia cerebral

Para acompanhar a filha, Miriam, a tempo inteiro, Sandra abdicou da sua profissão de educadora de crianças e nunca mais voltou ao ativo

Sandra Domingos foi mãe aos 30 anos de uma menina saudável e sem qualquer problema de saúde. Com apenas oito meses, Miriam sofreu uma encefalite herpética, depois de estar em contacto com o vírus do herpes. A mãe não esquece o momento em que soube do diagnóstico e ainda hoje se emociona a falar dos últimos 12 anos.

Para acompanhar a filha a tempo inteiro, Sandra, que vive em São Brás de Alportel, abdicou da sua profissão de educadora de crianças e nunca mais voltou ao ativo. A ajuda dos pais tem sido fundamental, até porque Sandra divorciou-se quando Miriam tinha apenas um ano de idade. «Pode doer um bocadinho o que eu vou dizer, mas, para o pai da Miriam, é como se ela não existisse…»

Em maio, a Crescer esteve na antiga casa de Sandra e de Miriam e revelou como é que mãe e filha enfretam o diagnóstico que nunca esperaram ouvir.

O perigo do vírus do herpes

Segundo o relatório do Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral de 2016, as encefalites herpéticas representam 25 por cento das infeções do Sistema Nervoso central causadoras de Paralisia Cerebral.

O site Crescer falou com Eulália Calado, neuropediatra no Centro da Criança e do Adolesceste do Hospital CUF Descobertas. «Os vírus neurotrópicos são, de facto, muitos agressivos e destrutivos. Há muitas pessoas que têm herpes labial e há que ter muito cuidado, principalmente com crianças. Os vírus são piores que as bactérias, mas também não podemos pôr as crianças numa redoma… As crianças também têm de ter defesas. Não podemos viver atormentados com o que eles podem apanhar. Temos de encontrar um equilíbrio», refere a médica.
«Sobretudo no primeiro ano de vida, as crianças ainda não são imunocompetentes. Estão protegidas mais ou menos até aos seis meses pelos anticorpos maternos, mas depois dos seis meses até um ano, as crianças estão vulneráveis», explica Eulália Calado, alertando para os cuidados que a sociedade tem de ter. «As pessoas quando estão doentes não podem visitar bebés pequenos. No entanto, os pais não podem viver atormentados… Os miúdos têm de ter uma vida saudável e cheia de experiência, mas dentro das normas de higiene.»

Apelo de mãe à sociedade

Enquanto mãe, Sandra Domingos faz questão de deixar um apelo à sociedade. «As pessoas deviam ter mais cuidado. Um bebé é muito fofinho, mas chega olhar e apreciar. Talvez uma festa na cabeça não faça mal, mas nada mais que isso. Não toquem nas mãos, por favor. Não deem beijinho, não toquem nos bebés! Eles são muito indefesos e têm fraca imunidade. Levam as mãos a toda a hora e não sabemos o que pode acontecer… Mesmo sem ser o herpes, há imensos vírus… É o único apelo que eu passo: tenham muito cuidado», apela emocionada, enquanto olha para a filha.

Texto: Filipa Rosa; Fotos: Reprodução Facebook

 

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