Aluna de Vimioso com aulas online na carrinha do pai à procura de rede

Uma aluna de 12 anos de Serapicos, em Vimioso, desloca-se mais de um quilómetro várias vezes ao dia para assistir às aulas ‘online’ dentro da carrinha que o pai estaciona num ponto alto da aldeia para apanhar rede.

Aluna de Vimioso com aulas online na carrinha do pai à procura de rede

“Mesmo quando chego aos pontos mais altos, para além do frio que apanho dentro da carrinha do meu pai, a ligação está sempre a cair e por isso perco muita matéria, como é caso de hoje, durante a aula de História, porque não consigo ouvir os professores”, descreve Leonor, que frequenta o 7.º ano, agora a ter aulas online.

A aluna tem de adaptar-se ao trabalho do pai na agricultura, para tirarem rendimento do dia e das deslocações, tentando manter o equilíbrio e a concentração mediante a “complicada” tarefa de aprender à distância em Serapicos, aldeia do concelho de Vimioso, no distrito de Bragança, onde falta cobertura da rede de internet das várias operadoras nacionais.

“Não consigo fazer os trabalhos que me são marcados, porque não consigo ouvir os professores em boas condições. Para além deste problema, tenho de deslocar-me quatro ou cinco vezes por dia para cada um dos pontos da aldeia onde consigo apanhar rede, o que é muito desgastante, stressante e complicado”, vinca a aluna do Agrupamento de Escolas de Vimioso. Leonor indica que muitas vezes são os seus colegas que lhe mandam os trabalhos devido às várias falhas na ligação à internet.

Leonor Miranda é tida pelos professores como boa aluna e diz que se levanta muito cedo e tem de percorrer cerca de um quilómetro desde casa, até conseguir apanhar rede de internet, nos pontos mais altos da aldeia onde reside, para poder acompanhar as aulas online, o que se torna “stressante ” para a jovem estudante. Na aldeia transmontana de Serapicos, há mais duas alunas de 1º ciclo que estão nas mesmas circunstâncias.

Vítor Miranda, pai de Leonor, explica que tem de mudar várias vezes de sítio para conciliar o trabalho na agricultura com os estudos da filha, “o que por vezes não é uma tarefa fácil”. “A minha filha tem de sair do conforto de casa e onde poderia estar mais concentrada nos estudos, mas a fraca qualidade da ligação à internet não o permite, o que nos causa grandes transtornos familiares”, frisa.

Segundo Vítor Miranda, com o rigor do inverno e chuva dos últimos dias, “não é fácil estudar”. “Ainda tentei arranjar alternativa na casa da tia, mas como tem filhas pequenas, a situação é ainda mais complicada para a Leonor. Por isso, anda comigo na carrinha onde o espaço não abunda “, conta.

O pai da jovem Leonor diz que a situação mudou-lhe a vida profissional, porque tem algumas centenas de cabeças de gado e lavoura e estas tarefas também requerem muita atenção e trabalho. Para a diretora do Agrupamento de Escolas de Vimioso (AEV), Ana Paula Falcão, a menina fica bastante triste, já que se trata de uma excelente aluna.

“Esta situação é constrangedora, porque a Leonor é uma excelente aluna. Ter de andar de um lado para o outro, à procura de rede móvel para fazer a ligação à internet e muitas vezes não consegue assistir às aulas. Certamente é uma grande tristeza para ela. E nós, direção das escolas, não ficámos alheios a esta situação”, explica a também docente.

O AEV tem 229 alunos que frequentam o ensino até ao 9.º ano de escolaridade, visto que para continuarem os estudos têm de deslocar-se para outros concelhos. Na segunda-feira os alunos do 1.º ao 12.º ano retomaram as atividades letivas através do ensino a distância.

No total, são cerca de 1,2 milhões de alunos que voltam a ser obrigados a trocar, por tempo indefinido, as salas de aula pelas suas casas, quase um ano depois de, em março, o Governo ter encerrado as escolas e implementado o ensino à distância para conter a pandemia de covid-19.

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