Ana Leal Regressa à antena da TVI e responde à «perseguição» da ERC
Ana Leal leu, esta quinta-feira, um comunicado relativo às deliberações levadas a cabo pela ERC sobre o programa que a própria conduz na TVI.
Ana Leal acusou esta quinta-feira, dia 5 de setembro, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) de «condenação sumária», com base nas deliberações que esta instituição tem feito a reportagens emitidas no seu programa semanal na TVI e TVI 24.
No final do Jornal das 8 e depois da emissão das habituais peças de investigação da equipa que coordena, Ana Leal leu um comunicado, com o intuito de «esclarecer alguns pontos» que, para os jornalistas que lidera, colocam em causa o seu bom nome e o bom nome da TVI.
«Durante estes dois meses em que este espaço de informação esteve fora de antena, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social tornou públicas um conjunto de deliberações que, semana a semana, visavam as investigações levadas a cabo por esta equipa de jornalistas que eu coordeno por delegação da Direção de Informação da TVI. O jornalismo de investigação sempre teve e terá muitos inimigos, a começar pelos óbvios visados e a terminar nos interesses instalados que possam ser direta ou indiretamente afetados pelas nossas reportagens», começou por dizer.
«Até aqui não há novidade e faz parte do nosso trabalho lidar com estes riscos. Coisa diferente é o ataque consistente de instituições nomeadamente de reguladores que pretendem de facto condicionar a independência e a liberdade de expressão de uma profissão que, na essência da sua missão mais nobre, deveriam proteger e até promover. Não é o que tem acontecido», criticou Ana Leal.
«Se a ERC fosse americana, nunca teria existido o caso Watergate»
Para a jornalista, «não haverá na história do jornalismo um programa que tenha sido tão sancionado pela ERC e isto está a acontecer, não por questões de conteúdo, não por ser verdade ou mentira, nem por falta de provas que fundamentem o que revelamos. Todas estas sanções baseiam-se em questões de estilo, em opiniões subjetivas sobre interesse público ou em reprimendas sobre métodos jornalísticos de obtenção de fontes e de provas».
Neste comunicado, a jornalista adiantou ainda: «Se a ERC fosse americana, nunca teria existido o caso Watergate. Com a agravante de, nem eu, nem os jornalistas que trabalham comigo terem sido chamados ou ouvidos antes de sermos julgados em praça pública. A isso chama-se condenação sumária, que é o que estão a fazer».
Relativamente às variadas deliberações que a ERC tem feito, Ana Leal considerou que estas serão tratadas judicialmente. «Também sabemos distinguir a instituição das pessoas que, sendo transitórias naquelas funções, têm o poder de nos contestar em nome da entidade que representam. Mas não podemos ignorar ou fingir que subavaliamos aquilo que está a acontecer».
O comunicado termina com a alusão ao código deontológico dos jornalistas, focando-se no ponto em que o profissional «deve lutar contra as restrições no acesso ás fontes de informação e as tentativas de limitar o direito de informar. Acrescenta ainda que é obrigação do jornalista divulgar as ofensas a esses direitos». Com base nestes trâmites, a jornalista concluiu: «Com autorização da minha Direção de Informação [dirigida por Sérgio Figueiredo], acabei aqui e agora de fazer.»
Antes da leitura deste comunicado, ainda de manhã, Ana Leal esteve à conversa com Maria Cerqueira Gomes e Manuel Luís Goucha, no Você na TV!, a falar sobre o seu programa e, referindo-se ainda à ERC, afirmou: «O que tem acontecido é um ataque cerrado em várias frentes ao programa».
Veja aqui a leitura do comunicado:
«É notório o enviesamento e a falta de isenção da TVI»
No início deste ano, a ERC e a Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas receberam centenas de queixas depois da emissão de uma reportagem, no programa Ana Leal, sobre terapias de orientação sexual. Um trabalho de investigação que se centrou «numa espécie de sociedade secreta, praticada em Portugal por psicólogos, psiquiatras e padres da Igreja Católica, que acreditam que é possível curar homossexuais», como adiantou o canal. Na sua deliberação, a ERC concluiu que a reportagem «desrespeitou várias exigências jurídicas e deontológicas».
Antes, porém, já o Conselho Deontológico dos Jornalistas tinha condenado uma reportagem sobre violência doméstica, que tinha tido início no Jornal das 8 e seguiu depois para o programa homónimo na TVI 24, onde Ana Leal falou ao telefone com Manuel Maria Carrilho que, posteriormente, colocou o filho, Dinis Maria, em linha. Em causa estava uma gravação feita à porta de casa de Bárbara Guimarães – que acusou o ex-marido de maus-tratos -, durante a entrega dos filhos de ambos, e emitida pelo canal de Queluz de Baixo.
Já em julho, a ERC deu razão à queixa apresentada pelo PCP, alegando que a reportagem emitida sobre o suposto favorecimento do genro de Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do partido, nos contratos da Câmara Municipal de Loures foi «marcadamente sensacionalista», concluindo que ficou claro «o enviesamento e a falta de isenção da TVI».
Texto: Rita Montenegro; Fotos: Impala e DR
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